quarta-feira, 1 de março de 2017

O Grande Mandamento - Dt 6.1-9


1 Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR, teu Deus, se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para a possuir; 2 para que temas ao SENHOR, teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam prolongados. 3 Ouve, pois, ó Israel, e atenta em os cumprires, para que bem te suceda, e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te disse o SENHOR, Deus de teus pais. 4 Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.5 Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.6 Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; 7 tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. 8 Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. 9 E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. (Deuteronômio 6:1-9 [ARA])

Introdução
Nesta passagem das Escrituras temos um aprofundamento da primeira parte do Decálogo, ou seja, dos quatro primeiros mandamentos relacionados à pessoa de Deus (cf. Ex 20.1-4; Dt 5.5-10). Aqui podemos perceber o âmago e a essência da lei de Deus. Israel é exortado a cumprir e guardar as ordens de Deus, bem como reverenciá-lo. Esse ensinamento deveria seguir para as próximas gerações e asseguraria a vida e a prosperidade do povo. Notaremos, portanto, nesta breve exposição, essas questões de forma mais detalhada.

1 – Uma lei para um povo (vv. 1-3)
O povo hebreu recebe as instruções de Deus, por meio de Moisés, para que fossem praticadas na terra que Ele havia prometido. Seguindo a percepção de Thompson, a versão NVI traz uma melhor tradução para a palavra mitsvá (traduzida por mandamentos pela ARA, v. 1)* . Não se trata de um termo plural, mas singular, ou seja, lei, conforme traduz a NVI. A ideia é que Deus deu apenas uma lei para o seu povo, constituída de decretos e ordenanças gerais, mas que visam um único propósito: temer ao Senhor (v. 2).

O termo temer (v. 2) traz a ideia de medo, receio ou temor reverente. Há ocasiões em que Deus diz para os seus servos não temerem (cf. Gn 26.24). O que significa, portanto, temer ao Senhor? É uma atitude de reconhecimento do poder e status da pessoa reverenciada. Deus deu a Sua lei para que o Israel seguisse os seus preceitos em temor, isto é, para que fizessem a Sua vontade e não se desviasse dEle. O contínuo reconhecimento de quem Deus é nos impede de seguir o caminho errado.

O ato de Deus dar as Suas leis para o povo hebreu era uma demonstração de particularidade entre Javé e Israel. “Não fez assim a nenhuma outra nação; todas ignoram os seus preceitos. Aleluia!” (Sl 147.20).
A lei de Deus deveria ser ensinada para as próximas gerações (v. 2), desta forma o povo seria abençoado em crescimento e iria usufruir da terra prometida. Para que a vida dos hebreus fosse segura em Deus, necessitariam estar em contato com as suas instruções. É como declarou o salmista sobre o que medita na lei de Deus: “Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido” (Sl 1.3, ARA).
O compromisso com a Palavra de Deus – leitura e meditação – nos capacita a reverenciá-lo, e isso nos dará melhores condições para usufruir das promessas de Deus.

2 – O grande mandamento (vv. 4-9)
Esta breve passagem é conhecida pelos judeus durante séculos como o Shemá (“Ouve”, em hebraico), a qual é recitada juntamente com Dt 11. 13-21 e Nm 15.37-41 como oração diária. Com respeito à declaração “o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (v. 4, ARA), há diversas traduções gramaticalmente possíveis, como: “Javé nosso Deus, Javé é um”, “Javé é nosso Deus, Javé é um”, “Javé é nosso Deus, Javé somente”**.  Porém, é mais compreensível que se trata de uma declaração da unicidade de Deus. Ou seja, “o Senhor é Deus, o Senhor é único”.

Essa declaração traz algumas implicações para o povo de Deus: 1) A monolatria deveria ser totalmente abandonada, isto é, admitir que existam outros deuses, mas que apenas um deve ser adorado; 2) Deus fala contra o politeísmo, pois somente Ele é Deus e não existe nenhum outro. O Senhor demonstrou isso ao ridicularizar os deuses do panteão egípcio (cf. Ex 12.12; 15.11); e 3) Nada nem ninguém pode tomar o lugar de Deus (Isaías 42.8).

O grande mandamento consiste em amar a Deus “de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (v. 5). Quando perguntado sobre qual era o principal mandamento, Jesus citou esse mandamento (Mc 12.29-30; Mt 22.37; Lc10.27). Esse mandamento consiste em uma síntese de todos os mandamentos relacionados à pessoa de Deus. Israel deveria ter um relacionamento íntimo com Deus em amor, não obedecê-lo de maneira legalista, fria, tendo que fazer o dever pelo dever. A motivação do coração deveria ser santa, amando de coração ao Senhor.

Amar de todo o coração, de toda a alma e de toda a força, significa amar a Deus com todo o ser. Deus deve ser amado sem quaisquer reservas. E amar a Deus está relacionado a obedecer aos seus mandamentos.

As palavras de Deus devem estar no coração dos seus servos (v. 6). O indivíduo demonstra que ama a Deus praticando os seus mandamentos. Jesus também ensinou dizendo: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo 14.21). O amor é uma expressão de lealdade. Como Deus é o único Senhor, somente Ele deve ser amado pelos seus servos.

A disposição para amar a Deus abrange todas as áreas da vida. Envolve tanto obedecer como ensinar para as próximas gerações (vv. 7-9), de maneira que em todas as épocas o Seu nome ficasse gravado, os seus feitos fossem recordados, e a Sua lei seja obedecida. O salmista nos exorta a fazer isso: “O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhas que fez” (Sl 78.3,4).

Conclusão
Não basta apenas alguém dizer que ama a Deus. Isso deve ser perceptível, deve ser notado pela prática da Sua Palavra. O amor para com Deus deve ser maior do que tudo, deve ser total. Somente Ele é Deus e não podemos colocar nada ou ninguém no lugar que pertence apenas a Ele (Is 42.8). A obediência a Sua lei nos ajuda a temê-lo, que por sua vez nos ajuda a vivermos de maneira tranquila diante dEle. Não podemos deixar de falar as Suas verdades aos nossos filhos. Nosso lar deve ser um ambiente em que Deus é o centro.

Notas:
*THOMPSON, 1982, p. 116.
**Ibid, p. 117.

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