terça-feira, 21 de novembro de 2017

Rute: A novela da Redenção - Ep.01

Ep.01 | Misericórdia e lealdade em meio a tragédia (1.1-22)


Hoje iniciaremos uma série de mensagens no livro de Rute. Na verdade, começaremos a assistir [ouvir] uma novela: A Novela da Redenção no Livro de Rute. Uma história em quatro episódios. Talvez você compreenda novela em termos de televisão, apenas. No entanto, novela é um gênero literário muito utilizado por escritores, inclusive os escritores bíblicos. 

Novela é um gênero que contém uma breve história, com alguns episódios até atingir um desfecho, cujo objetivo é nos trazer uma lição. Veremos que nessa novela há a seguinte sequência: um problema (tragédia familiar), mais problemas, princípio de resolução do problema e desfecho com a resolução de todos os problemas. 

Aqueles que amam ler ou assistir romances irão amar o livro de Rute, pois aborda a relação romântica entre um homem e uma mulher. Há também o suspense e uma situação em que parece não haver solução. Também é uma história marcada por heroísmo. Mas, o principal objetivo dessa história é mostrar como a novela de Rute está relacionada com a história da nossa redenção.

Vejamos, então, o que nos reserva o primeiro episódio dessa novela.


Um período sombrio (vv. 1-5).

O verso um nos diz que os eventos a seguir ocorrem no período dos juízes, aqueles que julgaram Israel no período entre a morte de Josué e a coroação de Saul como rei. Certamente você deve se lembrar de como era essa época. O último versículo de Juízes diz: 

“Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21.25; cf. 17.6).

O livro de Juízes nos mostra o povo na terra de Canaã se prostituindo ao seguir outros deuses. Deus havia ordenado ao povo que, ao entrar na terra, expulsassem todos os moradores de lá para que não caíssem na idolatria deles. Mas o povo desobedeceu. Dessa forma, Deus enviava inimigos à Israel, o povo clamava pelo Senhor e Deus suscitava juízes para livrar o povo. Este era o ciclo desse período sombrio.

Assim, o livro de Rute tem como contexto histórico a época dos juízes, em que o povo de Deus O desprezava seguindo outros deuses, quebrava Suas leis e rejeitavam ao Senhor. Porém, embora o livro retrate a época dos juízes de Israel, a obra foi escrita depois dessa época, provavelmente durante o reinado de Davi (cf. 4.13ss). O escritor do livro é incerto, embora a Bíblia judaica apresente o profeta Samuel como provável autor.


Fome e Dor

O verso um, ainda, nos diz que houve fome na terra. Trata-se da terra de Judá e não em todo o planeta Terra, mesmo porque o refúgio daquela família seria a terra de Moabe, onde teria mantimento. Não temos aqui - especificado – se essa fome era um castigo de Deus ao povo de Judá. Mas olhemos para o que diz Levítico 26.3-4: 

3 Se andardes nos meus estatutos, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes, 4 então, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua messe, e a árvore do campo, o seu fruto”.

Ao que parece, tal fome é a mão pesada de Deus sobre um povo desobediente. Escassez de chuvas – nós nordestinos sabemos bem disso – resulta em grande tragédia na terra. Foi o que aconteceu naqueles dias.

Em razão da fome, Elimeleque, sua esposa Noemi e seus filhos Malom e Quiliom (v.2) resolveram sair de Belém de Judá (9 km de Jerusalém) para ir até Moabe, uma terra pagã que oprimiu Israel por 18 anos durante o período dos juízes (cf. 3.12-30). Naquela circunstância Deus usou Eúde para matar Eglon (rei gordo de Moabe) com um punhal. 

Para piorar a situação, além de ser uma época de apostasia e desprezo às leis de Deus, da fome que assola a terra dos hebreus e a viajem a outra terra, o marido de Noemi morre (v.3). Aqui está Noemi, viúva e com dois filhos em terra estrangeira. Poderia piorar?

A segunda geração da família (Malon e Quilion) se casa com mulheres estrangeiras, moabitas: Orfa e Rute (v.4), o que era proibido na lei de Deus (Dt 7.1-4). Após dez anos os filhos de Noemi morrem (v.5). O texto não explicita, mas fica-nos uma pergunta no ar: seria tudo isso, ainda, a mão do Senhor pesando sobre aquela família por misturar-se com povo estrangeiro? Não está claro. Porém, em meio a toda essa tragédia, percebemos o agir de Deus em prol do Seu povo e a realização do Seu plano redentivo.

No verso 5, final da introdução do livro, temos a situação em que Noemi se encontra: desamparada dos filhos e do marido. É assim que se inicia esta novela, num período sombrio, em meio a fome e a dor do luto. O que virá diante dessa tragédia?


Lealdade a caminho de Belém (vv. 6-18).

Noemi e suas noras resolvem voltar para Belém (“casa de pão”) de Judá, pois Deus se lembrou do seu povo, dando-lhe pão (v.6). Aos poucos o Autor da Novela vai mudando o ruma da trama. Nesta cena notamos as tentativas de Noemi de despedir suas noras Orfa e Rute, incentivando-as a voltarem para Moabe.

Na primeira tentativa (vv.7-10) Noemi pede que elas voltem e ora para que o Senhor seja misericordioso com elas, como elas foram com sua sogra. A ideia de Noemi era: “Vão e sejam felizes, vocês já fizeram muito por mim”. Mas elas se recusam a voltar e querem ir com Noemi.

Na segunda tentativa (vv.11-14) Noemi argumenta que ela não tem nada para oferecer à suas noras. O costume do povo hebreu, tendo como base Deuteronômio 25.5-10, era que quando o marido morresse seu irmão ou parente próximo se casaria com a viúva para continuar o nome do falecido. Quando Noemi diz que não tem filhos para se casar com suas noras, está se referindo a esse costume. Para Noemi, o nome de sua família “já era”. Suas noras poderiam casar-se novamente em Moabe, mas ela não tinha nada a lhes oferecer. O que restava para alguém na condição de Noemi era a mendicância.

A única coisa que Noemi tem, naquele momento é amargura (v.13), mas ela não queria compartilhar isso com suas noras. Orfa a deixou, mas “Rute se apegou a ela” (v.14). Rute se apegou a Noemi mesmo quando esta não tinha nada a lhe oferecer.

Na terceira tentativa (vv.15-18) Noemi pede a Rute que faça o mesmo que Orfa, ou seja, que volte para o seu povo e para os seus deuses (v.15). Aqui notamos a conversão sincera de Rute. Ela rejeitou o deus moabita (Quemos) e se voltou para o Deus de Noemi, Javé (v.17).

Lembremos que a conversão no AT é relatada de uma maneira diferente do NT, embora seja da mesma forma, pela fé. Primeiramente, Rute declarou que faria parte do povo de Israel, o povo da Aliança (v.16). Isso caracterizava a sua crença igual a dos hebreus. Em segundo lugar, Rute demonstra sua fidelidade ao Senhor ao querer estar na terra da promessa (v.17), assim como José, no Egito, quando pediu para que seus ossos fossem sepultados em Canaã (Gn 50.25; Êx 13.19). Ela demonstrou ter a mesma fé que sua sogra. Em terceiro lugar, ela demonstrou sua fé ao escolher adorar Javé, o Deus de Noemi ao invés de Quemos (v.17). Temos aqui, portanto, um vislumbre do plano de Deus explicitado no NT com relação à salvação dos gentios.

É maravilhoso notar que Rute se apega a Noemi mesmo diante das expectativas ruins que ela tem acerca do futuro. Mesmo não tendo mais esperanças para o futuro, Rute decide ficar com sua sogra que nada lhe tinha a oferecer. Rute demonstra sua lealdade e misericórdia para alguém que estava no fundo do poço. 

Notamos também uma mulher de fé mesmo numa situação adversa. Rute poderia ter pensado: “Voltarei para minha casa, minha terra, meus parentes e amigos. Vou fazer o que na terra dos israelitas, com uma mulher que Deus abandonou?” Ao contrário disso, Rute disse a Noemi: “Não deixarei você. Seu Deus é meu também”. Fé, lealdade e misericórdia diante de uma grande crise.

Noemi demora para entender as coisas da perspectiva divina. Os versos 19-22 mostram que, na chegada a Belém, as pessoas perguntam por Noemi e ela diz: “Não me chamem de Noemi, mas de Mara” (amarga), pois o “Todo-Poderoso me tem afligido” (v.20, 21). Repare que Noemi não reclama de Deus, mas o chama de Todo-Poderoso, enfatizando a sua crença na soberania de Deus. Ela não está reclamando de sua situação diante das pessoas, mas enfatiza que Deus permitiu que ela assim estivesse. O que ela esqueceu é que Deus tem propósitos maiores na vida dos seus filhos.

Lembremos de José que teve sua vida virada de cabeça para baixo por causa da inveja de seus irmãos. Deus tinha planos maiores para a vida dele. Jó também foi provado mais do que qualquer um de nós, mas depois pôde dizer: “Antes eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó 42.5). Lembremos também de nosso Senhor Jesus, mesmo sendo Deus suportou todo o sofrimento nesta terra porque tinha em vista o plano maior do Pai, a nossa salvação. Noemi sabia que era Deus agindo naquela situação, porém, sua amargura não a permitiu enxergar as coisas na perspectiva divina, entendendo que Deus tinha um plano maior em sua vida. Mal sabia ela o que o Senhor reservara para ela e Rute nos episódios seguintes. Mal sabia Rute o rumo que essa novela iria tomar graças ao seu gesto de misericórdia.


Conclusão

Algumas lições ficam claras nesse primeiro episódio. Primeiramente, Deus é soberano sobre tudo, e isto inclui o sofrimento. A fome e escassez, a viuvez e a morte dos filhos, o desamparo que afetou Noemi e suas noras estavam no plano de Deus. Da mesma maneira, momentos difíceis que passamos aqui estão em Seu plano eterno. Não sabemos os “por quês” e, creio, não precisamos saber. É preciso confiar em Sua soberania.

Talvez o seu problema esteja relacionado à falta de dinheiro ou de mantimentos; as coisas andam ruins em sua família; ao que parece, o Todo-Poderoso tem permitido você passar por um período amargo e você não entende porque isso está acontecendo em sua vida. Ainda assim, confie na soberania do Senhor pois Ele pode estar preparando algo maravilhoso para a sua vida.

Quando nos cercar o mal, se rugir o temporal, 
Em Jesus vou confiar, Ele nunca vai falhar. 
Quando a dor ou aflição vem turbar meu coração,
É preciso confiar e nunca duvidar. 

Pois é perfeito o Seu caminho. 
Nem sempre entenderei, porém, O seguirei. 
Pois é perfeito, o Seu caminho. 
Faze, ó Deus, de mim um vaso puro, sim. 
Erros Deus não faz; Pois me dá paz.
(Hino 321, Voz de Melodia)

Em meio a tragédia, podemos confiar nos planos de Deus, pois Seu caminho é perfeito.

A segunda lição que quero deixar é que devemos ter um coração misericordioso e bondoso como o de Rute. Ela sabia que não teria nada de Noemi pois sua situação era miserável. Ainda assim Rute se apegou a ela e não quis deixá-la só, mesmo que isso custasse viver ambas na miséria como indigentes. Rute não quis deixar Noemi. Precisamos ter um coração como o de Rute.

Geralmente nos aproximamos das pessoas esperando que isso nos traga algum benefício ou que se adeque aos “meus interesses”. Fazemos o bem esperando ser recompensados. A parábola do Bom Samaritano ilustra bem o dever de fazer o bem de forma desinteressada, sem querer nada em troca. Isso é o que Deus requer de nós.

Em terceiro lugar, a história de Noemi e Rute nos ensina sobre o valor da amizade em dias ruins. Rute não desistiu de estar com Noemi e apoiá-la quando ela estava vivendo em amargura. “Em todo o tempo ama o amigo e na angústia se faz um irmão” (Pv 17.17). Precisamos ser amigáveis como Rute e apoiar aqueles que precisam de nós em momentos difíceis.

Em quarto e último lugar, esse primeiro episódio nos ensina que nunca saberemos o que um gesto de misericórdia pode proporcionar ao futuro. Rute não tinha ideia de que aquele gesto seu para com Noemi fizesse com que ela fosse contada na linhagem do Messias (4.17-22; Mt 1). Isso me lembra da história de Sir Nicholas Winton, um homem que - em total silêncio e sem alarde - organizou o resgate e passagens para a Grã-Bretanha de cerca de 669 crianças judias da Tchecoslováquia, em sua maioria destinados aos campos de extermínio nazistas antes da Segunda Guerra Mundial.

Sir Nicholas nunca contou a ninguém o que tinha feito até a sua mulher, numa ida ao sótão, vários anos depois, ter descoberto o que ele fez e publicado suas ações. Em 1998, num programa da BBC, foi organizado um encontro dele com algumas pessoas salvas por ele. Num dado momento, foi pedido que todos os salvos por ele se levantassem na plateia. Várias pessoas se levantaram. Nicholas Withon, com seu ato de misericórdia, preservou a vida de centenas de pessoas e proporcionou o crescimento e surgimento de várias famílias. Ele jamais imaginaria que seu ato de misericórdia proporcionasse a ele, no futuro, ver tantas famílias que ele ajudou a preservar.

Sejamos bondosos e misericordiosos como foi Rute. Um pequeno gesto aqui pode fazer uma grande diferença lá na frente. Confiemos no Senhor mesmo em dias ruins. O melhor está por vir. Amém!

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Qual o remédio para a ansiedade?

Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus. - Filipenses 4:6-7

O jornal Estadão divulgou em janeiro de 2017 que o Brasil tem maior taxa de transtornos de ansiedade do mundo, segundo a OMS. De acordo com a pesquisa, o país ainda é o quinto em casos de depressão. Segundo a OMS, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. Fatores socioeconômicos, como pobreza, desemprego, e ambientais como o estilo de vida em grandes cidades, pesam nesse cenário.

A simples ansiedade pode ser definida com o sentimento de quem vive no futuro, se preocupando com o que ainda estar para acontecer. Isso pode gerar desconforto, medo, vertigens, irritabilidade, insônia e vários outros sintomas. Pode também gerar problemas mais graves como depressão e ataque de pânico, por exemplo.

Qual o remédio para a ansiedade? A ansiedade tem sido tratada com medicamentos e/ou consultas em psicólogos e psiquiatras. Quando alguém se sente ansioso logo procura um “profissional da área”, alguém que entenda da “alma”. Mas o que a Bíblia pode nos dizer a respeito? Será que existe um bom remédio para quem está ansioso com o amanhã?

O apóstolo Paulo nos mostra, em Fp 4.6,7 (Ler), que a oração é o remédio para a ansiedade. Ele nos diz para não andarmos ansiosos de coisa alguma. A palavra andar ansioso (em grego é uma palavra) significa estar preocupado. Pelo que não devemos estar preocupados? Por nada. É isso que significa coisa alguma. 

Por que não devemos andar ansiosos? Em primeiro lugar, embora seja algo comum em nós, as preocupações atestam nossa falta de confiança na sabedoria, na soberania e no poder de Deus. Não precisamos saber como será o nosso futuro, como disse certo pastor, basta confiar naquele que o controla. 

Em segundo lugar, não podemos acrescentar nada à vida com nossas preocupações. Em Mateus 6.27, o Senhor Jesus questionou seus discípulos sobre a ansiedade: “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?” (NVI). 

Quando somos tentados a carregar o peso das preocupações em nossos ombros frágeis e humanos, lembremos que o melhor remédio que temos a nossa disposição para lutarmos contra a ansiedade é a oração. Leve tudo a Deus em oração (v.6), é o que diz o apóstolo. 

“em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica”. Há algo de maravilho demais nessa frase. Quando oramos, nos colocamos diante do Senhor, tal qual um súdito na presença do seu rei soberano. A oração é o lugar que nos faz estar diante de Deus. Portanto, Deus está em Seu santo trono à disposição de nos ouvir, sejam quais forem as petições.

“em tudo” [...] “com ações de graças”. Essa frase indica que devemos orar em gratidão em todas as situações da vida, quer sejam agradáveis ou adversas (cf 1Ts 5.18). Paulo fala em toda a epístola sobre alegria, sobre viver contente em qualquer situação.  Orar em gratidão é reconhecer que em toda e qualquer circunstância Deus é bom. 

Em 2.14 Paulo diz: "Fazei tudo sem murmurações". A palavra murmuração indica resmungo ou um desprazer secreto e não declarado abertamente. É o contrário de ser satisfeito em Deus. Muitas vezes, repito, muitas vezes, só estamos contentes quando nossas circunstâncias "favorecem". É fácil estar contente quando se tem um ótimo salário, quando se tem uma ótima casa, quando se tem todos os amigos à sua disposição, quando não há conflitos no lar, quando os filhos são obedientes, quando o emprego é o emprego dos sonhos... Seríamos gratos a Deus quando não temos tudo isso? Ou quando nos falta muitas delas? Paulo diz: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (v.11) e por isso ele  disse: “tudo posso naquele que me fortalece” (v.13).

Mesmo quando as coisas não vão bem e estamos ao ponto de mergulhar no mar da ansiedade, devemos orar em gratidão pois temos Alguém que nos ouve e que não nos deixa sós em nenhum momento. O melhor remédio para a ansiedade é a oração.

O remédio prescrito pelo por Paulo traz um ótimo resultado. Somos guardados pelo Deus da paz (v.7). Ele guarda nosso coração e nossa mente em Cristo com sua paz. Nos mostra que a melhor maneira de lidar com as preocupações e não carregá-las conosco, mas lançar sobre Ele, pois Ele tem cuidado de nós (1Pe 5.7). Conforme nos diz o hino, perdemos a paz muitas vezes porque não oramos:

Oh, que paz perdemos sempre
Oh, que dor no coração
Só porque nós não levamos
Tudo a Deus em oração

O que você fará a partir de hoje quando a ansiedade ou preocupação vier? Irá chorar sozinho para que ninguém veja? Vai se consultar com algum médico, antes de ir a Jesus? Você carregará o fardo sozinho, tendo pessoas a sua disposição para lhe ajudar e Deus em seu trono para te ouvir? Você vai confiar em Deus mesmo quando o mundo estiver desmoronando ao seu redor?

Musica no ministério infantil

*Algumas anotações sobre a importância da música no ministério infantil de sua igreja.


I – Por que cantar com as crianças?

A) As crianças podem louvar a Deus verdadeiramente (Mt 21:15,16; cf. Sl 8.1,2).

Hosana ao Filho de Davi. Os sacerdotes e escribas esperavam que Jesus repreendessem as pessoas que estavam louvando-o com essas palavras, inclusive as crianças. Mas Jesus disse: “Ué! Vocês não leram os salmos não? Lá diz que da boca das crianças saem um louvor perfeito.” O que as crianças declararam era a verdade. Jesus é, de fato, o Filho de Davi. Cristo afirma, então, a sinceridade no coração das crianças quando elas louvam.

B) Há um convite nas Escrituras para que todos louvem ao Senhor e isto inclui as crianças (Sl 148:12)
  1. O louvor das criaturas celestiais (vv. 1-6)
  2. O louvor das criaturas terrestres (vv. 7-14)
  3. *cf. Sl 145.21; 150.6
C) A música cristã transmite uma mensagem para todas as pessoas, isso inclui as crianças. 
  1. Ensino, Sl 25; 32:8; 34.11; Dt 4.10; Ed 7.10
  2. Edificação, Cl 3:16; Ef 5.19; Fp 4:8
  3. Evangelização, 1Co 15.3,4).
A música cristã é aquela que transmite uma mensagem das Escrituras que ensina, edifica ou fala da obra de Cristo, sempre visando o louvor a Deus.

II – Quais os benefícios que a musica pode trazer às crianças?

A) Auxilia na aprendizagem. 

Os hebreus tinham um método de aprendizagem da lei de Deus que também é bastante utilizado por nós: a memorização. Nós decoramos versículos. Eles decoram passagens inteiras da Lei.

Desde criança (cf. Dt 6) os hebreus aprendiam a lei, ficavam memorizando, colocavam (e ainda fazem isso) filactérios (caixinhas) com versículos na testa. Não é muito difícil um judeu não saber todo o pentateuco memorizado.

Em nossa cultura isso não é muito incentivado. Porém, a música é uma grande ferramenta para auxiliar no aprendizado da Palavra de Deus, tanto para nós como para as crianças.

"A Música é excelente recurso para auxiliar o desenvolvimento da criança, a fim de que seja atingido êsse [sic] nível de maturidade indispensável à aprendizagem. Assim, temos que, além de levar ao desenvolvimento geral, auxilia particularmente a coordenação motora, a acuidade auditiva, a acuidade visual, a memória, a atenção, etc" (COSTA; DEL VALLE, p. 13).

Acuidade significa capacidade de percepção. Com o auxilio da música, a criança desenvolve sua coordenação motora, desenvolve sua capacidade de ouvir (isso consequentemente o ajudará a desenvolver sua musicalidade), desenvolve sua acuidade visual (é o grau de aptidão do olho, para discriminar os detalhes) especialmente os que tocam instrumentos, ajuda a exercitar a memória (diferente dos hebreus, lembra?) e melhora a sua atenção.

Para os ministérios que desenvolvemos na igreja com crianças, a música é essencial para fazê-las ter atenção (acalmar as crianças em alguns casos) no momento do ensino da Palavra de Deus.

"Através da Música podemos criar ambiente favorável para o que se deseja ensinar, uma vez que ela é sempre agradável às crianças, desde que observados certos princípios em relação à música a ser dada, como o da qualidade, da adequação ao nível das crianças, a técnica de ensina usada, etc" (Ibid, p. 14, grifo nosso).

B) Auxilia na integração social.

"As atividades musicais compartilhadas, como o canto coletivo e a banda rítmica, são elementos que a um só tempo farão sentir êsses [sic] dois aspectos: o da necessidade de cooperação e o do respeito ao próximo, tão úteis na socialização da criança" (Ibid, p. 11).

C) Auxilia psicologicamente. 

Aqui a música funciona como um reforço, um auxilio para crianças tímidas ou muito agitadas. Ajuda a desenvolver um equilíbrio emocional.

III – Quais os critérios para o preparo dos cânticos infantis?

A) Deve obedecer ao propósito do ministério infantil que está sendo desenvolvido por sua igreja (CLUBIC, EBEC, OANSE, EBD, Classe de Cinco Dias, Berçário ou Culto Infantil).
  • Evangelizar, Edificar as crianças crentes e Implantar missões no coração da criança (EBEC).
B) A letra da música é o fator mais importante para comunicar bem a mensagem.
  1. Deve ser clara. Em caso de palavras desconhecidas explique.
  2. Deve ser bíblica (Cl 3.16). Não queremos dizer que deve conter necessariamente uma letra extraída da Bíblia. Mas deve falar das verdades dela.
    • Há músicas não cristãs que contém princípios bíblicos (Ex: A música “Não atire o pau no gato” ensina um princípio bíblico de não maltratar os animais [Pv 12.10]). No entanto pode cair no erro de não ser clara para. Além disso, há diferenças de contexto. 
    • Não pode conter erros doutrinários. (Obs: deve-se ter o cuidado com o acompanhamento musical para não tirar a atenção da mensagem).
    • Modifique a letra, se necessário.
      • As árvores balançam
      • Balançam, balançam,
      • As árvores balançam
      • Mostrando o amor de Deus. 
      • [ao invés de balançam como a brisa]
C) No ato da escolha das músicas, deve-se ter em mente o público alvo (berçário, culto infantil, etc).
  • Depedendo das crianças que você estiver ministrando, escolherá músicas mais curtas do que o normal (berçário). (Ex: É hora, é hora, é hora da história...)
D) É importante um aprimoramento da musicalidade do responsável pelos cânticos.
  1. Creio que não precisa ser alguém que seja um grande músico ou musicista. No entanto, é necessário que seja alguém que se esforce para fazer sempre o melhor.
  2. Professores mais tímidos devem treinar sua dinâmica, fazer exercícios para apresentar-se diante das pesssoas (Alguns tem mais facilidade de estar diante de uma igreja lotada do que diante de 20 crianças).
  3. O instrumentista deve estar sempre se capacitando.
IV – Como preparar cânticos para o ministério infantil?

A) Escolha as músicas. Uma das grandes dificuldades que tenho percebido entre aqueles que trabalham nessa área é a escolha das músicas.
  1. Dispomos de uma variedade de recursos para busca de cânticos na net:
    • Internet: Google!
    • Videos YouTube. Exemplos: Três Palavrinhas e Turma do Cristãozinho (mostrar).
  2. O livro Manual Prático para o Culto Infantil alista algumas sujestões:
    • Procure usar os quatro volumes de coletânea da APEC (procure no site a APEC).
    • Coletânia da JUERP, o Cantarolando.
    • Musicais da Turma do Printy.
    • Há diversos CDs e DVDs de cânticos infantis disponíveis em qualquer livraria evangélica.
B) Prepare slides ou cartazes com as letras dos cânticos. Coloque cânticos fáceis de decorar.

C) Utilize acompanhamento musical (Instrumental ou Playback). Melodia simples.

D) Seja dedicado, o ministério infantil é coisa séria. 


Referências
  • BECK, Fabiana Weischung; AITA, Luciana Pereira; CAMARGO, Maria Aparecida Santana. A experiência musical na educação infantil. Disponível em: http://www.unicruz.edu.br/seminario/artigos/humanas/. Acesso em 27/08/2015.
  • COSTA, Nïobe Marques da; DEL VALLE, Edna Almeida. Música na escola primária. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, [s/d].
  • LEONARD, Julie Hansen. Música: comunicação de louvor e adoração. Material de aula ministrada no Seminário Batista do Cariri, p. 11-13.
  • RANGEL, Rawderson; XAVIER, Manoel. Manual prático para o culto infantil. Curitiba: AD SANTOS EDITORA, 2006.