"3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. 4 Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros." Filipenses 2:3-4 (ARA)
Recapitulação. Vimos os motivos (“por quê?”) para a unidade (2.1) e as marcas (“o que é?”) da unidade (2.2) . Hoje falaremos sobre os meios (“como?”) para a unidade. Paulo é muito direto e prático aqui. O ensino é muito simples. Responderemos a questão “Como podemos manter a unidade?”
1. Não faça nada por partidarismo (v.3)
“Nada façais por partidarismo”
Estamos em época de campanha eleitoral. Nesse período é comum vermos campanhas serem realizadas de maneira desleal: candidatos tentando ser eleitos pisando em seus adversários políticos. Isso é motivado por uma atitude que o apóstolo Paulo chama de partidarismo. É um tipo de egoísmo que leva alguém a brigar, incomodar, discutir, disputar. A Bíblia chama àqueles que se comportam dessa maneira de "facciosos" (Rm 2.8; Tg 3.14,16), tendo em vista sua especialidade em fazer confusão e causar divisão no corpo de Cristo.
Partidarismo é uma das obras da carne (Gl 5.20 ["discórdias"]). É uma "ambição que não tem nenhuma noção de serviço e cujos objetivos são o lucro e o poder" (Reinecker e Rogers). Em outras palavras, um "partidarista" ou "faccioso" faz tudo para obter algum benefício, mesmo que isso significa dividir o corpo de Cristo. É vencer pisando nos outros, disse John MacArthur.
É uma busca pelos próprios interesses. Isso é um coração egoísta. Essa busca por interesses próprios e egoístas geram, em nós, um espírito de divisão. Como assim? O egoísmo na igreja gera a vontade de EU criar o meu próprio grupo que atenda aos MEUS interesses. Não é por acaso, por exemplo, que temos tantas e tantas igrejas no mundo. Um irmão não gosta do pastor ou tem problema com algum irmão, nada acontece do jeito que ele quer e, a primeira coisa que ele faz é criar o seu próprio grupo. Surge, então, uma nova igreja. A igreja terá um nome bonito: Batista Num Sei das Quantas, Pentecostal de Num Seu o Quê, Congregação Sei Lá de Onde; mas deveria se chamar: Igreja Fundamentada no Partidarismo.
Agora, é possível que uma igreja já seja dividida sem, necessariamente, ser separada fisicamente. Os crentes vivem juntos, ou melhor, próximos, se reúnem, mas vivem por setores. O apóstolo Paulo chama isso de divisões partidárias (cf. 1Co 1.10).
Quando você quer que as coisas funcionem sempre do seu jeito, você, além de ser egoísta, quer ser o dono da igreja. Certo pastor disse o seguinte:
“Se na sua igreja há alguém que diz como a igreja deve ser, como o pastor deve ser, como o diácono deve ser, como o louvor deve ser, como as programações especiais devem ser, como a disciplina eclesiástica deve ser, como o trabalho de missões deve ser e que se irrita quando as coisas não são como ele acha que deve ser, a sua igreja tem um dono, e este não é Jesus.” (1)
O mandamento bíblico é claro: Não façam nada por partidarismo (ambição egoísta que leva à discórdia e divisão).
2. Não faça nada por vanglória
“Nada façais por partidarismo ou vanglória”
O apóstolo Paulo inclui outra atitude ruim que deve ser eliminada da igreja ou, ao menos, não deve nem chegar perto: a vanglória. O que é vanglória? No texto grego, temos aqui a junção de duas palavras: kenodoxia (kenos [vazio] + doxa [glória]), cujo significado literal é louvor vazio ou (como foi traduzido no português) vanglória.
É uma busca por glória pessoal. Note que ela está relacionada à ambição egoísta, própria do partidarismo. A vanglória é a ilusão de achar que sou digno de glória. É um desejo de ser grande e notável. É a ilusão de ser o que não realmente não sou, por isso que Paulo chama de glória vã; inútil.
Aqui precisamos ter muito cuidado. A vanglória revela uma intenção ainda maior em nosso coração. A vanglória nos faz sermos soberbos e presunçosos. Nos achamos grandes demais. Paulo disse, noutro contexto, que não devemos pensar acerca de nós mesmos além do que convém. Mas, como disse, a vanglória revela uma intenção ainda maior em nosso coração: usurpar a glória de Deus.
Paulo fala bastante sobre glória em Filipenses. Vejamos: 1.11; 2.11; 4.19,20. Essas passagens revelam que nossas vidas devem glorificar a Deus, Aquele que merece. Por isso devemos ter cuidado com a vanglória, pois ela constitui-se uma tentativa de “roubar a cena” de Deus. É dele a glória.
Cabe para nós o exemplo de Cristo (falaremos mais sobre isso noutra mensagem). Cristo se esvaziou (kenosis) a si mesmo (v.7). Ora, nós já somos “vazios”, pois não podemos diminuir ainda mais o que já somos. Mas Cristo se esvaziou de sua glória por nós. O exemplo que devemos seguir aqui é o de não querermos ter como “usurpação o ser igual a Deus” (v.6), mas sermos o que devemos ser: servos.
A vanglória se manifesta quando queremos mostrar para as pessoas o que "fazemos para Deus" com o intuito de sermos visto por eles. Jesus censurou isso em Mt 6. "Ao dar esmolas, ao jejuar e ao orar, não façam para aparecer, mas façam para o Pai, que vê em secreto". Se queremos que as pessoas aplaudam o que fazemos, receberemos delas os elogios. Mas não recebemos do Senhor. E, ainda, tiramos Deus do foco e nos colocamos no centro das atenções.
Ainda, não devemos fazer as coisas por vanglória. Mesmo porque nós somos servos uns dos outros e não senhores uns dos outros. Não tratemos os outros como inferiores a nós.
Paulo diz: “Não façam nada por partidarismo ou vanglória.
“Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade”
Perceba que está tudo interligado aqui. A humildade é completamente diferente do sentimento faccioso (partidarista) e vanglorioso. A humildade, usando o subtitulo de um livro, é a Verdadeira Grandeza.
Jesus é especialista nessa temática. Ele disse: “"Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração" (Mt 11.29). Humildade é ter uma opinião modesta de si mesmo. É não pensar de si mesmo além do que convém. Jesus era assim. E nos ensinou que também devemos ser assim. Veja Mc 10.35-45. “Se alguém quiser ser grande, seja servo dos outros”. A humildade é a verdadeira grandeza.
A humildade não era vista, no mundo grego, como uma virtude. Essa palavra era utilizada para se referir a uma pessoa insignificante. Jesus a utiliza para mostrar sua condição de servo dos outros. Uma pessoa humilde está pronto para servir ao outro. E considera os outros superiores a si mesmo (v.3)
Como podemos vivenciar essa humildade? Cito aqui um trecho do livro que tenho lido sobre humildade:
Bryce, um piedoso adolescente, honra seus pais e cuida de seus irmãos mais novos - incluindo seu irmão Eric, que sofre de autismo.
Theresa, uma mulher solteira, dona de uma gargalhada contagiante, serve alegremente a numerosas famílias em nossa igreja.
Trey, um pastor amigo meu, serve como pastor auxiliar de seu filho, Rich.
Eric, um bem-sucedido homem de negócios, todos os domingos, trabalha como voluntário em nossa igreja estacionando carros.
Minha filha, Kristin, trabalha incansavelmente em sua casa, cuidando de seu esposo, Brian, e de seus três filhos.
Dick, um homem solteiro, trabalha na agência dos correios e leva uma vida simples, a fim de contribuir generosamente com famílias que adotam crianças.
Ken, um pai que abandonou o trabalho, e tudo com o que estava acostumado, a fim de se mudar com sua família para outra parte do país onde congregariam numa igreja mais forte.
Bernie e Pearl, um casal com cerca de oitenta anos que, apesar dos muitos problemas de saúde, se dedicavam de corpo e alma ao pequeno grupo que Bernie liderava. Agora, eles estão se regozijando com nosso Salvador. (2)
Isso é humildade. É assim que devemos ser. Pessoas que se importam com os outros, em servir aos outros e não desejam ser grandes em relação aos outros.
4. Não busque apenas seus interesses (v.4)
“Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu,
senão também cada qual o que é dos outros.”
Aqui Paulo mostra como mantemos a unidade em humildade. Ele nos chama para o altruísmo. O que isso significa? É o contrário de egoísmo. Fazer as coisas por interesse e si mesmo. Nós devemos nos importar com os outros.
Ilustração:
Sujeitinho Egoísta
Uma instituição de caridade nunca tinha recebido uma doação de um dos advogados mais ricos da cidade.
O diretor da instituição decidiu ele mesmo ir falar com o advogado:
- Sabemos que o senhor é um dos advogados mais bem sucedidos desta cidade, que ganha muito bem... com sua licença, gostaríamos de pedir-lhe que faça uma doação para nossa caridade.
O advogado respondeu:
- Sim, é verdade que eu ganho muito bem. Mas o senhor também sabia que minha mãe esta muito doente e que as contas médicas são muito superiores a renda anual dela?
- Ah, não! murmurou o diretor.
- E que eu tenho um irmão cego e desempregado? E que o marido da minha irmã morreu num acidente e deixou ela sem um tostão e com 5 filhos menores para criar?
O diretor, constrangido, falou:
- Eu não tinha a menor ideia de tudo isso...
Então, disse o advogado:
- se eu não dou um tostão para eles, por que iria dar algum a vocês?
Buscamos responder aqui a questão: Quais os meios para a unidade da igreja? Como podemos ser unidos? Não faça nada por partidarismo (v.3); Não faça nada por vanglória; Faça tudo humildemente (v.3); Não busque apenas seus interesses (v.4).
Que Deus abençoe a nossa união. Amém!
Notas:
(1) https://www.facebook.com/antonio.neto.3745/posts/1527375950718570?__tn__=-R
(2) C.J. Mahaney. Humildade: a verdadeira grandeza. São José dos Campos-SP: Editora Fiel, 2008, p.41-42.

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