quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Um apelo à observância das Escrituras

A palavra de Deus deve ser o centro da vida de todo o cristão. Ela deve habitar em nossos corações:

Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo... (Cl 3.16)

Nenhuma “visão”, “sonho” ou doutrina de homens, nada pode se sobrepujar às revelações e doutrinas nela contidas.

O testemunho de Martinho Lutero sobre as Escrituras esclarece bem o que quero dizer:

Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir.

Lutero foi um grande exemplo de alguém que reconheceu a autoridade das sagradas letras. Ao bradar: “Sola Scriptura” (Somente as Escrituras) durante a reforma protestante, ensejou mostrar a igreja de Roma que ela era totalmente inferior a Bíblia. Só a Bíblia é a única autoridade no que diz respeito a fé e prática:

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (II Tm 3.16-17, grifo nosso)

Tudo o que preciso saber sobre Deus e Sua vontade está em Sua palavra.

Quando ameaçado de excomunhão (até pena de morte) pela igreja caso não se retratasse formalmente de sua “afronta”, Lutero não temeu:

A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.

Ele estava convencido de que estava agindo de acordo com a palavra de Deus. Ele tinha examinado para ver se os ensinos da igreja eram bíblicos.
Não podemos simplesmente crer em tudo o que se prega sem antes examinar nas Escrituras:

Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. (Atos 17.11).

Em II Timóteo 4.3-4, o apóstolo Paulo fala que nos últimos tempos haverá pessoas que não darão ouvidos a verdade da palavra de Deus, não vão tolerar os santos ensinos. Tudo isso porque darão ouvidos aos falsos mestres, isto é, aqueles que falam somente o que é agradável aos ouvidos.

Você está percebendo? Há pessoas que preferem negligenciar a verdade porque é dura, é difícil. A Palavra fala de arrependimento, do meu pecado, de renunciar as minhas vontades e fala do inferno.  O que é mais fácil? Óbvio que dar ouvidos a algo que desejo ouvir é bem mais simples. “Não preciso me esforçar tanto!”

Porém, estamos vivendo nos últimos dias e tudo isso está acontecendo. As pessoas estão considerando outros ensinos e abandonando as escrituras. Elas se desviam da verdade por acreditarem em “histórias para boi dormir”.

Examine a sua Bíblia! Não creia em tudo o que lhe dizem, mas “ouça” a voz de Deus diretamente do testemunho das Escrituras.

Lembre-se das palavras de Jesus Cristo:

Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna... (João 5.39)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Amor, uma decisão!


Você já deve ter visto em algum livro ou filme de romance que as pessoas, ao se apaixonarem, costumam dizer: “Foi amor à primeira vista”. Alguns acreditam que o amor nasce no coração sem sequer “pedir licença”, como se não tivesse como controla-lo. Outros ficam até chateados por estarem amando alguém que não corresponde a esse “sentimento”.
Amor não é um mero sentimento. É uma decisão, uma escolha. Uma prova disso é que as Escrituras ordenam:

Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. (Dt 6:5)

Se há uma ordem de Deus para o amarmos, logo, essa ordem pode ser obedecida ou não. Ou seja, podemos decidir se queremos ou não amarmos a Deus. (Outros versículos que mostra uma ordem para amar: Lv 19:18; Lc 10:27.)

Amar a Deus exige uma renúncia total de todas as minhas próprias vontades, pela vontade dEle.
A oração que Cristo ensinou aos seus discípulos, chamada de oração dominical, nos mostra qual vontade deve sobressair:

“...venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu...” (Mt 6:10)

O que o texto em Dt 6:5 quer nos ensinar, em suma, é que devemos amar a Deus com todo o nosso ser, entregando a nossa vida a disposição de Deus.

Certamente, você conhece alguém (talvez seja você mesmo) que, embora seja um crente, tem trabalhado pouco na obra de Deus, não tem sentido prazer em ir a igreja (ou só faz isso) ou evangelizar. Olhe para sua vida! Pense se você tem amado de fato ao Senhor.


Que a cada dia possamos colocar nossas vidas a disposição do Senhor como uma demonstração de amor pela Sua pessoa e Sua vontade. Amém!

A FÉ CRISTÃ EM PERIGO: Um ensaio sobre três confissões de fé históricas

A fé é atacada
Do decorrer da história a igreja sofreu diversos ataques, tanto em relação a sua conduta quanto as doutrinas. Embora não houvesse uma perseguição de forma sistematizada contra os cristãos, estes tinham que tomar precauções no tocante a suas práticas e ensinos, pois quem quisesse destruir um cristão, a única coisa que precisava fazer era leva-lo aos tribunais e levantar falso contra ele.
Nessas circunstâncias, os cristãos viram que precisavam fazer de tudo para livrar-se de quaisquer falsas acusações. Daí surgiu grandes obras de apologética cristã, escritas anteriormente ao ano 138, das quais cito: “Discurso a Diogneto”, autor anônimo; “Diálogo com Trifon”, de Justino, o Mártir; “Discurso aos gregos”, composição de Taciano, discípulo de Justino. Posteriormente, por volta do ano 180, Teófilo, bispo de Antioquia compôs “Três livros a Autólico”.
1.      O surgimento das seitas e heresias
Muitos ao se converterem a nova fé, traziam consigo uma bagagem cultural, especialmente no que diz respeito ao misticismo grego. Na medida em que a doutrina teológica se desenvolvia, surgiam seitas e heresias até mesmo no meio da igreja.
A principal seita a ser combatida era o gnosticismo (“gnosis”, “sabedoria” ou “conhecimento”). Os gnósticos buscavam uma reinterpretação da fé cristã de maneira inaceitável a igreja. Eles acreditavam que toda matéria era má; que o homem é um espírito eterno preso a este corpo, que por sinal, é mau; toda a realidade é espiritual.
Criam também que o Deus supremo queria ter criado um mundo somente espiritual. Já o mundo material foi criado pelas divindades que emanam dele. Essas divindades podem ser boas ou ruins, razão pela qual o bem e o mal existem. Segundo os gnósticos, Cristo foi uma dessas “emanações”, e que por algum tempo a natureza divina habitou nele.
Outras heresias surgiram com Márcion, filho do bispo de Sinope, na região do Ponto. Ele ensinava doutrinas que contradiziam a fé cristã, por isso, muitos se afastaram dele, o que o motivou a fundar sua própria igreja.
Márcion cria que este mundo era mau e que o seu criador é Jeová, um deus inferior em relação ao Deus do Novo Testamento. Jeová, o deus do Antigo Testamento, é um deus arbitrário, vingativo e ciumento; enquanto Deus, o Pai de Jesus, é Deus de amor e Justiça. De acordo com Márcion, Jesus não nasceu de Maria, mas apareceu neste mundo já maduro na época do imperador Tibério.
2.      A resposta da igreja: O Credo dos Apóstolos
A igreja ainda não tinha todos os livros do Novo Testamento reunidos como temos hoje. Por isso, para os cristãos o livro sagrado era o mesmo dos judeus: as “Escrituras”, na versão grega “Septuaginta”. Então, a igreja tratou de reunir todos os livros neotestamentários, a fim de mostrar a harmonia daqueles livros em relação aos ensinos de Jesus.
Outra resposta da igreja ao desafio dos gnósticos e de Márcion foi o chamado “Credo dos Apóstolos”, o que naquela época era chamado de “símbolo de fé”. Os cristãos viram a necessidade de elaborar uma confissão para mostrar o que sustentavam como a verdadeira fé, diante de uma série de doutrinas falsas. Isto é semelhante ao que chamamos de “Declaração de Fé”.
Assim foi formulado o Credo dos Apóstolos, dos séculos III e IV:
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor; concebido pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria; que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado,  e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos; que subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica, na comunhão dos santos, na remissão de pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.
Este credo tem o propósito de rejeitar as doutrinas heréticas dos gnósticos e, principalmente, de Márcion. Portanto, é importante analisar detidamente nessas palavras proferidas.
O texto inicia declarando que Deus é “Todo-Poderoso”, isto é, Senhor, governador de tudo, tanto do mundo em forma material quanto espiritual. Deus não só governa o universo como é o “Criador dos céus e da terra”. Ao contrário do que ensina o gnosticismo, a Bíblia ensina que só há um Deus, o Todo-Poderoso e Criador de tudo o que existe nos céus e na terra.
Outra verdade que o credo declara é de que Jesus é o Filho do Deus “Todo-Poderoso”, declarado no verso anterior. Só existe um Deus, do qual o Senhor Jesus é Filho. Ao contrário do que dizia Márcion, de que Jesus era filho apenas do Deus do Novo Testamento.
Ainda, em relação a Jesus Cristo, a confissão fala do seu nascimento: “nascido da Virgem Maria”. Ele de fato nasceu, como homem, de “carne e osso”. Não apareceu repentinamente e do nada já na fase adulta, mas viveu experiências humanas. Ao fazer referência a “Pôncio Pilatos”, os cristãos estão declarando que Cristo é também um ser histórico. Aqui se busca dar uma data concreta, a fim de comprovar a Sua existência e de mostrar que ele não é um ser mitológico, como muitos gnósticos acreditavam.
A declaração de que Cristo “foi crucificado (...) assentou-se à direita do Pai Todo-Poderoso”, é utilizada para refutar o docetismo, o qual defendia que o corpo de Cristo não era real e que sua crucificação teria sido apenas aparente.
Por último, a respeito de Cristo, o credo ainda diz: “há de vir para julgar os vivos e os mortos”. Para Márcion, como mostramos anteriormente, o Deus Pai de Jesus é um ser amoroso, que não é vingativo, nem condena ninguém, diferentemente do deus Jeová. Porém, o que a confissão mostra é que até mesmo Cristo é um Julgador. Ele irá fazer justiça na sua segunda vinda.
Os cristãos queriam enfatizar a autoridade da igreja ao dizer: “Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica”, uma vez que ela tinha recebido o “depósito da fé”.

ÁRIO E O CREDO DE NICÉIA
Outras doutrinas heréticas que ameaçavam a verdadeira mensagem do cristianismo surgiram no início do terceiro século. Ário era um presbítero da cidade de Alexandria. A controvérsia em questão era relacionada à divindade de Cristo e a Trindade. Segundo Ário, apoiado por Eusébio de Nicomédia, Jesus Cristo, o Verbo, não é Deus, mas foi criado por Deus.
Após uma série de discursos no concílio de Nicéia, evento organizado para tratar do assunto em questão, aos gritos de “blasfêmia” contra Eusébio, este teve suas doutrinas condenadas pela maior parte dos que estavam presentes. A assembleia, então, decidiu compor um credo que expressasse a fé da igreja com relação às questões debatidas. O credo, o que conhecemos como “Credo de Nicéia”, exarado em 325 a.d. e revisado em Constantinopla em 381 a.d., chegou-se a forma que adiante segue:
Cremos em um só Deus, Pai, Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim.
E no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas. E na Igreja una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro.
Percebe-se que, no credo proferido, é dito que existe “um só Deus (...) Criador de todas as coisas”, para mostrar que os cristãos não são politeístas, como alguns heréticos julgavam em virtude da crença na divindade de Cristo.
O ensinamento de que Cristo é apenas um ser criado por Deus é diretamente excluído pelo credo ao dizer: “gerado pelo Pai (...) verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai”. Isto é, Jesus não foi criado por Deus e nem há diferenças ele e o Pai quanto à substância divina.

ÊUTICO E O CREDO DE CALCEDÔNIA
No quarto século, a controvérsia em questão era cristológica. Cristo é verdadeiramente Deus e verdadeiro homem? Alguns não conseguiam conceber o fato de em Cristo habitar duas naturezas depois da encarnação: humana e divina. Essa era a convicção de Êutico, um monge que morava em Constantinopla. Para ele, Cristo era consubstancial conosco. Vala ressaltar que pouco antes de Êutico, foi discutida pela igreja a frase “Maria mãe de Deus”. O que foi declarado pela igreja é que Maria era mesmo a mãe de Deus, não a fim de venerá-la, mas para confirmar que em Cristo há duas naturezas.
Para afirmar a condenação da doutrina eutiquiana, foi formulado, no concílio de Calcedônia em 451 A.D. a “Definição de fé”, o que conhecemos como Credo de Calcedônia, conforme segue adiante:
Fiéis aos santos Pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo, consubstancial com o Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado segundo a divindade pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos transmitiu.
Os credos que analisamos nos ensina que devemos defender a nossa fé, não com debates sem fundamento, sobre assuntos que nem acrescenta nem diminui a vida cristã, mas sobre questões fundamentais do cristianismo bíblico; e que é muito importante o estudo da teologia, sem o qual não podemos falar de Deus nem de Sua palavra.



REFERÊNCIAS

González, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo vol. 1: a era das trevas. São Paulo: Vida Nova, 1995.
_______________. Uma história ilustrada do cristianismo vol. 2: a era dos gigantes. São Paulo: Vida Nova, 1995.
HURLBUT, Jesse Lyman. História da igreja cristã. São Paulo: Vida, 2002.

WALTON, Robert C. História da Igreja em quadros. São Paulo: Vida, 2000.

O Cânon do Novo Testamento

O que é o cânon?
O cânon (“regra ou pradrão”) do Novo testamento são todos os livros reconhecidos[1] pela igreja como sendo inspirados por Deus. Esses escritos são, portanto, as Palavras do próprio Deus, sendo dotado de autoridade suprema.
A palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no sentido ativo como no passivo. No sentido ativo, a Bíblia é o cânon pelo qual tudo o mais deve ser julgado. No sentido passivo, cânon significava a regra ou padrão pelo qual um escrito deveria ser julgado inspirado ou dotado de autoridade. (Geisler; Nix, 1997, p.63)
O cânon neotestamentário começou a ser reconhecido no próprio NT. O apóstolo Paulo, por exemplo, fez uma citação de Lucas 10:7 ou de Mateus 10:10 em I Timóteo 5:18, evidência de que o evangelho de Lucas ou Mateus era considerado Escritura. Outro exemplo podemos ver em II Pedro 3: 15,16, em  que o apóstolo Pedro classifica as cartas paulinas com “as demais Escrituras”, colocando em pé de igualdade com os escritos veterotestamentários. João reivindicou que o livro de Apocalipse é a Palavra de Deus que testifica sua visão em Apocalipse 1:2.
De acordo com Gundry (2008, p.114), os cristãos primitivos (pré-canônicos) não tinham disponíveis nenhum dos livros do nosso Novo Testamento, tinham, porém o Antigo Testamento, tradição oral das palavras e obras de Jesus e profecias de cristãos da época.

A necessidade do cânon
Sabe-se que “os escritos do Novo Testamento foram terminados pouco depois do início do segundo século” (HURLBUT, 2002, p.67). A essa altura cópias de alguns desses escritos estavam em circulação pelas igrejas. Os cristãos aos poucos reconheciam que os livros os quais eles tinham disponíveis eram inspirados, embora houvesse divergências com relação a outros.
Os livros que receberam reconhecimento imediato são chamados homolegoumena (grego – “confessados”), e os que, por divergências, foram reconhecidos somente mais tarde são antilegoumena (grego – “impugnados”).
Posteriormente surgiram situações em que a igreja precisou organizar todos os livros do NT.
A)  Surgimento de heresias
Márcion, nascido em 100 d.C., filho do bispo de Sinope, na região do Ponto, ensinava doutrinas que contradiziam a fé cristã, por isso, muitos se afastaram dele, o que o motivou a fundar sua própria igreja.
Ele acreditava que este mundo era mau e que o seu criador é Jeová, um deus inferior em relação ao Deus do Novo Testamento. Jeová, o deus do Antigo Testamento, é um deus arbitrário, vingativo e ciumento; enquanto Deus, o Pai de Jesus, é Deus de amor e Justiça. Em sua obra Antíteses, procurou estabelecer uma incompatibilidade entre a Lei e o Evangelho.
O gnosticismo (“gnosis”, “sabedoria” ou “conhecimento”), que buscava uma reinterpretação (interpretação alegórica) da fé cristã de maneira incompatível a fé apostólica.
Visto que toda a Escritura era proveitosa para a doutrina (2Tm 3.16,17), tornou-se cada vez mais necessário definir os limites do legado doutrinário apostólico, necessidade de saber que livros deveriam ser usados para ensinar a doutrina com autoridade divina tornou-se questão que exercia pressão cada vez maior, por causa da multiplicidade de livros heréticos que reivindicavam autoridade divina (Geisler; Nix, 1997, p.103).

B)  A mensagem escrita
Outra necessidade e não menos importante é a de registrar por escrito o cumprimento da promessa de Deus no Antigo Testamento. O evangelho de Jesus foi pregado em todos os lugares pelos apóstolos, que, por sua vez, utilizavam apenas o Antigo Testamento. É importante ter o evangelho de Cristo registrado, pois por meio dele o homem pode obter a salvação e a vida eterna (João 20:31).

Os critérios para o cânon
Geisler e Nix (1997, p.68) alistam cinco princípios sobre a descoberta da canonicidade:
1) O livro é autorizado — afirma vir da parte de Deus?
2) É profético — foi escrito por um servo de Deus?
3) É digno de confiança — fala a verdade acerca de Deus, do homem etc?
4) É dinâmico — possui o poder de Deus que transforma vidas?
5) É aceito pelo povo de Deus para o qual foi originariamente escrito — é reconhecido como proveniente de Deus?
O critério mais importante era o da apostolicidade, de acordo com GUNDRY (2008, p. 116), ou seja, se foram escritos pelos próprios apóstolos ou por homens que andaram com eles (Exemplo: Lucas foi companheiro de Paulo).

O concílio de Cartago (397 d.C.)
No concílio de Cartago em 397 d.C foram estabelecidos formalmente o cânon do Novo Testamento, com a ratificação dos 27 livros que conhecemos. Posteriormente, surgiram outros concílios, em virtude de ainda haver muitas divergências quanto ao uso de alguns livros.

Conclusão
Podemos perceber o quanto Deus guiou a igreja para reconhecerem aqueles livros os quais Ele quis nos revelar a Sua pessoa e a Sua vontade, bem como, para que possamos ter o conhecimento de Jesus Cristo revelado no Novo Testamento, sem o qual é impossível ter a justificação pela fé.




[1] Alguns autores utilizam a expressão “aceitos”. Contudo as Escrituras não necessitam de aceitação ou aprovação de quaisquer pessoas.



REFERÊNCIAS 
Geisler, Norman L.; Nix, William E. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou a nós. São Paulo: Editora Vida, 1997. [e-book]
González, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo vol. 1: a era das trevas. São Paulo: Vida Nova, 1995.
GUNDRY, Robert H. Panorama do novo testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
HALLEY, Henry Hampton. Manual bíblico de Halley. São Paulo: Editora Vida, 2002.
HURLBUT, Jesse Lyman. História da igreja cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002. [e-book]

SILVA, Antônio Gilberto da. A Bíblia através dos séculos: uma introdução. Rio de Janeiro: CPAD, 1986.