O que é o cânon?
O cânon (“regra ou pradrão”) do Novo
testamento são todos os livros reconhecidos[1] pela igreja como
sendo inspirados por Deus. Esses escritos são, portanto, as Palavras do próprio
Deus, sendo dotado de autoridade suprema.
A
palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no sentido ativo como no passivo. No
sentido ativo, a Bíblia é o cânon pelo qual tudo o mais deve ser julgado. No
sentido passivo, cânon significava a regra ou padrão pelo qual um escrito
deveria ser julgado inspirado ou dotado de autoridade. (Geisler; Nix, 1997, p.63)
O cânon
neotestamentário começou a ser reconhecido no próprio NT. O apóstolo Paulo, por
exemplo, fez uma citação de Lucas 10:7 ou de Mateus 10:10 em I Timóteo 5:18,
evidência de que o evangelho de Lucas ou Mateus era considerado Escritura.
Outro exemplo podemos ver em II Pedro 3: 15,16, em que o apóstolo Pedro classifica as cartas
paulinas com “as demais Escrituras”, colocando em pé de igualdade com os
escritos veterotestamentários. João reivindicou que o livro de Apocalipse é a
Palavra de Deus que testifica sua visão em Apocalipse 1:2.
De acordo com Gundry (2008, p.114), os
cristãos primitivos (pré-canônicos) não tinham disponíveis nenhum dos livros do
nosso Novo Testamento, tinham, porém o Antigo Testamento, tradição oral das
palavras e obras de Jesus e profecias de cristãos da época.
A necessidade do
cânon
Sabe-se que “os escritos do Novo Testamento
foram terminados pouco depois do início do segundo século” (HURLBUT,
2002, p.67). A essa altura cópias de alguns desses escritos estavam em
circulação pelas igrejas. Os cristãos aos poucos reconheciam que os livros os
quais eles tinham disponíveis eram inspirados, embora houvesse divergências com
relação a outros.
Os
livros que receberam reconhecimento imediato são chamados homolegoumena (grego – “confessados”), e os que, por divergências,
foram reconhecidos somente mais tarde são antilegoumena
(grego – “impugnados”).
Posteriormente
surgiram situações em que a igreja precisou organizar todos os livros do NT.
A) Surgimento de heresias
Márcion, nascido em 100
d.C., filho do bispo de Sinope, na região do Ponto, ensinava doutrinas que
contradiziam a fé cristã, por isso, muitos se afastaram dele, o que o motivou a
fundar sua própria igreja.
Ele acreditava que este
mundo era mau e que o seu criador é Jeová, um deus inferior em relação ao Deus
do Novo Testamento. Jeová, o deus do Antigo Testamento, é um deus arbitrário,
vingativo e ciumento; enquanto Deus, o Pai de Jesus, é Deus de amor e Justiça. Em
sua obra Antíteses, procurou
estabelecer uma incompatibilidade entre a Lei e o Evangelho.
O gnosticismo
(“gnosis”, “sabedoria” ou “conhecimento”), que buscava uma reinterpretação
(interpretação alegórica) da fé cristã de maneira incompatível a fé apostólica.
Visto
que toda a Escritura era proveitosa para a doutrina (2Tm 3.16,17), tornou-se
cada vez mais necessário definir os limites do legado doutrinário apostólico,
necessidade de saber que livros deveriam ser usados para ensinar a doutrina com
autoridade divina tornou-se questão que exercia pressão cada vez maior, por
causa da multiplicidade de livros heréticos que reivindicavam autoridade divina
(Geisler; Nix, 1997, p.103).
B) A mensagem escrita
Outra necessidade e não menos importante
é a de registrar por escrito o cumprimento da promessa de Deus no Antigo
Testamento. O evangelho de Jesus foi pregado em todos os lugares pelos
apóstolos, que, por sua vez, utilizavam apenas o Antigo Testamento. É
importante ter o evangelho de Cristo registrado, pois por meio dele o homem
pode obter a salvação e a vida eterna (João 20:31).
Os critérios para o cânon
Geisler e Nix (1997, p.68) alistam cinco princípios sobre a descoberta da
canonicidade:
1) O livro é autorizado
— afirma vir da parte de Deus?
2) É profético —
foi escrito por um servo de Deus?
3) É digno de
confiança — fala a verdade acerca de Deus, do homem etc?
4) É dinâmico —
possui o poder de Deus que transforma vidas?
5) É aceito pelo
povo de Deus para o qual foi originariamente escrito — é reconhecido como
proveniente de Deus?
O critério mais importante era o da apostolicidade,
de acordo com GUNDRY (2008, p. 116), ou seja, se foram escritos pelos próprios
apóstolos ou por homens que andaram com eles (Exemplo: Lucas foi companheiro de
Paulo).
O
concílio de Cartago (397 d.C.)
No concílio de Cartago
em 397 d.C foram estabelecidos formalmente o cânon do Novo Testamento, com a
ratificação dos 27 livros que conhecemos. Posteriormente, surgiram outros
concílios, em virtude de ainda haver muitas divergências quanto ao uso de
alguns livros.
Conclusão
Podemos perceber o quanto Deus guiou a
igreja para reconhecerem aqueles livros os quais Ele quis nos revelar a Sua
pessoa e a Sua vontade, bem como, para que possamos ter o conhecimento de Jesus
Cristo revelado no Novo Testamento, sem o qual é impossível ter a justificação
pela fé.
[1] Alguns autores utilizam a
expressão “aceitos”. Contudo as Escrituras não necessitam de aceitação ou
aprovação de quaisquer pessoas.
REFERÊNCIAS
Geisler, Norman L.; Nix, William E. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou a nós. São Paulo: Editora Vida,
1997. [e-book]
González, Justo
L. Uma história ilustrada do cristianismo vol. 1: a era das trevas. São Paulo:
Vida Nova, 1995.
GUNDRY, Robert
H. Panorama do novo testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
HALLEY, Henry
Hampton. Manual bíblico de Halley. São Paulo: Editora Vida, 2002.
HURLBUT, Jesse
Lyman. História da igreja cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002. [e-book]
SILVA, Antônio
Gilberto da. A Bíblia através dos séculos: uma introdução. Rio de Janeiro:
CPAD, 1986.
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