sábado, 7 de dezembro de 2013

Jesus não é Deus! Será?


Ele é adorado

Essas são as palavras de Cristo: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Mateus 4.10).

Só Deus deve ser adorado. Nós percebemos isso em todo o contexto bíblico. Ele não quer que se adorem outros deuses e nada deve tomar o Seu lugar em nossas vidas. Adoração somente a Deus.

João, o escritor do Apocalipse (ou Revelação), estava tão maravilhado com as visões que chegou a se prostrar duas vezes para adorar o anjo que lhe mostrava aquelas coisas:

Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia. (Apocalipse 19.10)

Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus. (Apocalipse 22.8-9, grifo nosso)
O anjo não se deixou ser adorado, pois sabia que a adoração só pertence a Deus.
Jesus foi adorado quando criança (Mateus 2.2; 2.8; 2.11), permitiu que o adorassem e não repreendeu a ninguém como fez o anjo em relação a João:
E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus! (Mateus 14.33)
E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. (Mateus 28.9)
E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. (Mateus 28.17)
Uma Testemunha de Jeová muito fiel aos ensinos da organização, enquanto fazia visitações de casa em casa, foi parada por outra mulher que lhe disse: “O Deus que vocês adoram é o mesmo Deus que o apóstolo Tomé e os demais adoravam?”

A resposta não poderia ser outra: “Sim! Claro!”.

Essa outra pediu para ela abrir a Bíblia em João 20. 28, dizendo: “Então, veja a declaração que Tomé fez de Jesus”:

Em resposta, Tomé disse-lhe: “Meu Senhor e meu Deus!”. (TNM, grifo nosso)

Que declaração de Tomé! Cristo havia aparecido perante os discípulos após sua ressurreição, porém, esse discípulo não estava na ocasião. Posteriormente, os discípulos lhes disseram que viram o Senhor, mas Tomé, tão cético, não deu crédito em suas palavras, dizendo:

A menos que eu veja nas suas mãos o sinal dos pregos e ponha o meu dedo no sinal dos pregos, e ponha a minha mão no seu lado, certamente não acreditarei. (João 20:25, TNM)

Oito dias depois ele teve a oportunidade de comprovar que Cristo, de fato, tinha ressuscitado. E ao reconhecê-lo, declara que ele é o seu Senhor e seu Deus.

E agora? Será que Tomé errou ao pronunciar estas palavras?
Ele perdoa pecados

Todo homem é pecador, nasce em pecado (Salmos 51.5; Romanos 3.23; 5.12). O nosso pecado é uma ofensa direta contra a santidade de Deus. Somente Ele pode perdoar as nossas ofensas, pois foram contra a Sua pessoa:
Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro. (Is 43.25)

Eis uma pergunta retórica:

Quem pode perdoar pecados, senão um, que é Deus? (Marcos 2.7)

A resposta é óbvia: ninguém pode!

Esse questionamento surgiu quando, em Cafarnaum, alguns homens trouxeram à presença de Jesus um paralítico, a fim de ser curado.

Após ver a fé daquele homem, Jesus fez algo que, para os mestres da Lei, era herético, blasfemo:

Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados (Marcos 2.5, grifo nosso).

O quê? Jesus perdoando os pecados de alguém? Quem é ele para fazer isso?

A resposta fica clara! Só faltou Jesus dizer: “Sim, apenas Deus pode perdoar pecados. É o que estou fazendo.” Porém, ele respondeu em outras palavras:

Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados (Marcos 2.10).

O questionamento dos mestres da Lei tinha fundamento, pois, de fato, somente Deus tem autoridade para perdoar a culpa de alguém. E Cristo, sendo Deus, pode perdoar pecados, como claramente se observa nessa passagem de Marcos 2.1-12.


Continua...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Desanimados? Não, não, não...


Texto: II Timóteo

“Seja forte e corajoso! Seja forte e muito corajoso!” Essas foram as palavras do Senhor para Josué quando foi chamado para liderar o povo de Israel após a morte de Moisés. A tarefa de Josué era bastante difícil, ele iria comandar um grande povo. Era um grande desafio levá-los a herdar a terra que lhes foi prometida pelo Senhor. Percebemos que Deus já estava preparando e fortalecendo Josué para aquele difícil trabalho. Deus sabia que problemas iriam surgir e Josué precisava ser forte e corajoso. Não podia desanimar.

Certamente você já enfrentou ou está enfrentando dificuldades em sua vida e já se sentiu o se sente desanimado. Talvez algum problema no trabalho, na faculdade ou na escola; algum amigo lhe fez algo que o deixou triste ou algum irmão da igreja que lhe ofendeu; alguma injustiça que fizeram com você sem motivo algum.

Muitos tem se deixado levar por esses problemas e acabam desanimados. Outros, por conta disso, enfrentam problemas com a ansiedade e até chegam a depressão. Há quem diga que as pessoas desanimadas estão assim por causa de problemas espirituais, por conta do pecado. Vivemos numa época em que o sofrimento e tristeza é falta de fé. “O filho de Deus não fica desanimado”, é o que ensina os doutores da prosperidade. No entanto, quero lhes mostrar na segunda epístola de Paulo a Timóteo que o servo do Senhor não pode temer quando os tempos difíceis chegarem. 

Primeiramente, devemos entender que é muito comum o desânimo em tempos de dificuldade. Era isso que Timóteo estava enfrentando em seu ministério. Ele havia perdido o ânimo, a alegria, a coragem. 

É importante que lembrar que Paulo já havia escrito uma carta para Timóteo, a quem ele chama de “meu verdadeiro filho na fé”. Isso nos leva a crer que aquele jovem se converteu através da pregação do apóstolo. Timóteo tornou-se um grande colaborador de Paulo em suas viagens e em assistência a igrejas. Paulo escreveu a primeira carta com o intuito de instruir seu discípulo a liderar a igreja de Éfeso, da qual ele era pastor.

Já esta segunda carta, Paulo escreve a fim de fortalecer Timóteo a permanecer firme diante das dificuldades. Parece-nos que após aquela primeira carta Timóteo enfrentou diversos problemas e lhe sobreveio o desânimo. Por isso Paulo desejava ver Timóteo, com o fim de se alegrar com ele (1:4; 4:9).

Nesta epístola temos as “últimas palavras do apóstolo Paulo”, uma vez que seu fim estava próximo (4:6-8). Além disso, provavelmente ele estava preso em Roma quando escreveu esta epístola e tinha sido abandonado por vários colaboradores. Olha que interessante: Um preso, próximo de sua morte, abandonado por muitos, escrevendo para confortar alguém que está livre. 

Paulo era quem “deveria” se sentir, você não acha? No entanto, mesmo em situações adversas ele busca fortalecer o jovem pastor.

O que deixava Timóteo desanimado? Percebemos no decorrer da carta que Paulo fala dos últimos dias. Nesse tempo muitos se apostataram da fé (3:1-9; 4: 3-4). O próprio apóstolo deu exemplo do abandono que havia sofrido (1:15; 4:10). Ainda, Paulo afirma os que “querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (3:12).  Diante disso, provavelmente Timóteo estivesse lidando com apostasia dentro da igreja, bem como enfrentando perseguições.

O que deixa você desanimado? 

Há alguns dias ouvi um testemunho de um pastor que está bastante doente, sofrendo de um câncer que o deixou acamado e muito debilitado – acredita-se até que sua situação é irreversível. Um outro pastor, que o visitou no hospital, ficou admirado com as palavras daquele pastor. Mesmo com um problema tão sério ele pregava de sua cama, dizendo mais ou menos assim: “Deus tem sido muito bom comigo”[...] “Vocês devem estar sempre perto de Deus”. Outras pessoas nesta situação certamente estariam depressivas, sem esperanças. Isso é o comum. No entanto, ele estava consciente que Deus está no controle de todas as situações, inclusive da sua doença.

É assim que devemos olhar para as dificuldades, cientes que Deus está no controle de tudo. Ele deseja nos guardar. Não podemos desanimar.

Quando perdemos o ânimo corremos o risco de nos tornar covardes (1:7).  A palavra covardia, no texto grego (δειλία), significa medo, temor; e deriva de outra palavra grega (δειλός), que significa pavor, timidez. O que Paulo está dizendo para Timóteo e também para nós é que Deus não nos deu um espírito medroso. Deus não quer que estejamos amedrontados diante das dificuldades da vida. Ele deseja que sejamos fortes, firmes, pois Deus nos deu espírito de poder.

Portanto, é muito comum o desânimo em tempo de dificuldade e juntamente com o desânimo vem a tristeza e o medo. Porém, há uma solução para enfrentar esta situação. A solução é apegar-se na Palavra de Deus (3:14-17).

Precisamos permanecer, persistir, perseverar nos ensinos da Palavra de Deus. Era isso que Timóteo precisava fazer diante da situação em que ele se encontrava.

Muitas vezes os versos 16 e são utilizados para falar sobre a doutrina da inspiração das Escrituras. No entanto, a ênfase de Paulo aqui não está em apresentar de forma clara esse ensino – embora possa ser usada – mas a ênfase está em mostrar a finalidade das Escrituras. A palavra de Deus pode nos fazer perfeitos e perfeitamente habilitado para toda a boa obra. Ela nos capacita e nos habilita a trabalharmos para Deus da maneira adequada, de uma maneira que honre a pessoa de Deus. Certamente, ela me capacita a enfrentar as dificuldades da vida.

Você tem lido e meditado em sua Bíblia diariamente? Se sua resposta for “sim”, você está sendo capacitado por Deus para enfrentar as adversidades. Se sua resposta for “não”, você está mais vulnerável ao desânimo quando surgirem as dificuldades.

É a palavra de Deus que nos ajuda diante dos problemas. Veja o que diz o Salmo 119:50: “O que me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me vivifica.” Essa deve ser a nossa certeza, que a palavra de Deus nos dá orientação e fortalecimento. Devemos nos apegara aos seus ensinos.

Embora o desânimo seja comum, precisamos nos manter firmes com o auxílio da Palavra de Deus. 

Então, você está desanimando? Há uma história de um homem que: Faliu no comércio aos 31 anos de idade. Perdeu para Deputado Estadual aos 32 anos. Faliu novamente no comércio aos 34 anos. Aos 35 anos, sua esposa faleceu. Teve colapso nervoso aos 36 anos. Perdeu para Prefeito aos 38 anos. Perdeu para Deputado Federal aos 43 anos. Perdeu para Deputado Estadual aos 46 anos. Perdeu para Senador aos 55 anos. Perdeu para Vice-Presidente aos 56 anos. Perdeu para Senador aos 58 anos. Foi eleito Presidente dos EUA aos 60 anos (1861). Este homem foi ABRAHAM LINCOLN (é homenageado em notas de US$ 5 por suas virtudes)”.

O servo do Senhor não pode temer quando os tempos difíceis chegarem. Amém!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Um apelo à observância das Escrituras

A palavra de Deus deve ser o centro da vida de todo o cristão. Ela deve habitar em nossos corações:

Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo... (Cl 3.16)

Nenhuma “visão”, “sonho” ou doutrina de homens, nada pode se sobrepujar às revelações e doutrinas nela contidas.

O testemunho de Martinho Lutero sobre as Escrituras esclarece bem o que quero dizer:

Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir.

Lutero foi um grande exemplo de alguém que reconheceu a autoridade das sagradas letras. Ao bradar: “Sola Scriptura” (Somente as Escrituras) durante a reforma protestante, ensejou mostrar a igreja de Roma que ela era totalmente inferior a Bíblia. Só a Bíblia é a única autoridade no que diz respeito a fé e prática:

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (II Tm 3.16-17, grifo nosso)

Tudo o que preciso saber sobre Deus e Sua vontade está em Sua palavra.

Quando ameaçado de excomunhão (até pena de morte) pela igreja caso não se retratasse formalmente de sua “afronta”, Lutero não temeu:

A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.

Ele estava convencido de que estava agindo de acordo com a palavra de Deus. Ele tinha examinado para ver se os ensinos da igreja eram bíblicos.
Não podemos simplesmente crer em tudo o que se prega sem antes examinar nas Escrituras:

Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. (Atos 17.11).

Em II Timóteo 4.3-4, o apóstolo Paulo fala que nos últimos tempos haverá pessoas que não darão ouvidos a verdade da palavra de Deus, não vão tolerar os santos ensinos. Tudo isso porque darão ouvidos aos falsos mestres, isto é, aqueles que falam somente o que é agradável aos ouvidos.

Você está percebendo? Há pessoas que preferem negligenciar a verdade porque é dura, é difícil. A Palavra fala de arrependimento, do meu pecado, de renunciar as minhas vontades e fala do inferno.  O que é mais fácil? Óbvio que dar ouvidos a algo que desejo ouvir é bem mais simples. “Não preciso me esforçar tanto!”

Porém, estamos vivendo nos últimos dias e tudo isso está acontecendo. As pessoas estão considerando outros ensinos e abandonando as escrituras. Elas se desviam da verdade por acreditarem em “histórias para boi dormir”.

Examine a sua Bíblia! Não creia em tudo o que lhe dizem, mas “ouça” a voz de Deus diretamente do testemunho das Escrituras.

Lembre-se das palavras de Jesus Cristo:

Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna... (João 5.39)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Amor, uma decisão!


Você já deve ter visto em algum livro ou filme de romance que as pessoas, ao se apaixonarem, costumam dizer: “Foi amor à primeira vista”. Alguns acreditam que o amor nasce no coração sem sequer “pedir licença”, como se não tivesse como controla-lo. Outros ficam até chateados por estarem amando alguém que não corresponde a esse “sentimento”.
Amor não é um mero sentimento. É uma decisão, uma escolha. Uma prova disso é que as Escrituras ordenam:

Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. (Dt 6:5)

Se há uma ordem de Deus para o amarmos, logo, essa ordem pode ser obedecida ou não. Ou seja, podemos decidir se queremos ou não amarmos a Deus. (Outros versículos que mostra uma ordem para amar: Lv 19:18; Lc 10:27.)

Amar a Deus exige uma renúncia total de todas as minhas próprias vontades, pela vontade dEle.
A oração que Cristo ensinou aos seus discípulos, chamada de oração dominical, nos mostra qual vontade deve sobressair:

“...venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu...” (Mt 6:10)

O que o texto em Dt 6:5 quer nos ensinar, em suma, é que devemos amar a Deus com todo o nosso ser, entregando a nossa vida a disposição de Deus.

Certamente, você conhece alguém (talvez seja você mesmo) que, embora seja um crente, tem trabalhado pouco na obra de Deus, não tem sentido prazer em ir a igreja (ou só faz isso) ou evangelizar. Olhe para sua vida! Pense se você tem amado de fato ao Senhor.


Que a cada dia possamos colocar nossas vidas a disposição do Senhor como uma demonstração de amor pela Sua pessoa e Sua vontade. Amém!

A FÉ CRISTÃ EM PERIGO: Um ensaio sobre três confissões de fé históricas

A fé é atacada
Do decorrer da história a igreja sofreu diversos ataques, tanto em relação a sua conduta quanto as doutrinas. Embora não houvesse uma perseguição de forma sistematizada contra os cristãos, estes tinham que tomar precauções no tocante a suas práticas e ensinos, pois quem quisesse destruir um cristão, a única coisa que precisava fazer era leva-lo aos tribunais e levantar falso contra ele.
Nessas circunstâncias, os cristãos viram que precisavam fazer de tudo para livrar-se de quaisquer falsas acusações. Daí surgiu grandes obras de apologética cristã, escritas anteriormente ao ano 138, das quais cito: “Discurso a Diogneto”, autor anônimo; “Diálogo com Trifon”, de Justino, o Mártir; “Discurso aos gregos”, composição de Taciano, discípulo de Justino. Posteriormente, por volta do ano 180, Teófilo, bispo de Antioquia compôs “Três livros a Autólico”.
1.      O surgimento das seitas e heresias
Muitos ao se converterem a nova fé, traziam consigo uma bagagem cultural, especialmente no que diz respeito ao misticismo grego. Na medida em que a doutrina teológica se desenvolvia, surgiam seitas e heresias até mesmo no meio da igreja.
A principal seita a ser combatida era o gnosticismo (“gnosis”, “sabedoria” ou “conhecimento”). Os gnósticos buscavam uma reinterpretação da fé cristã de maneira inaceitável a igreja. Eles acreditavam que toda matéria era má; que o homem é um espírito eterno preso a este corpo, que por sinal, é mau; toda a realidade é espiritual.
Criam também que o Deus supremo queria ter criado um mundo somente espiritual. Já o mundo material foi criado pelas divindades que emanam dele. Essas divindades podem ser boas ou ruins, razão pela qual o bem e o mal existem. Segundo os gnósticos, Cristo foi uma dessas “emanações”, e que por algum tempo a natureza divina habitou nele.
Outras heresias surgiram com Márcion, filho do bispo de Sinope, na região do Ponto. Ele ensinava doutrinas que contradiziam a fé cristã, por isso, muitos se afastaram dele, o que o motivou a fundar sua própria igreja.
Márcion cria que este mundo era mau e que o seu criador é Jeová, um deus inferior em relação ao Deus do Novo Testamento. Jeová, o deus do Antigo Testamento, é um deus arbitrário, vingativo e ciumento; enquanto Deus, o Pai de Jesus, é Deus de amor e Justiça. De acordo com Márcion, Jesus não nasceu de Maria, mas apareceu neste mundo já maduro na época do imperador Tibério.
2.      A resposta da igreja: O Credo dos Apóstolos
A igreja ainda não tinha todos os livros do Novo Testamento reunidos como temos hoje. Por isso, para os cristãos o livro sagrado era o mesmo dos judeus: as “Escrituras”, na versão grega “Septuaginta”. Então, a igreja tratou de reunir todos os livros neotestamentários, a fim de mostrar a harmonia daqueles livros em relação aos ensinos de Jesus.
Outra resposta da igreja ao desafio dos gnósticos e de Márcion foi o chamado “Credo dos Apóstolos”, o que naquela época era chamado de “símbolo de fé”. Os cristãos viram a necessidade de elaborar uma confissão para mostrar o que sustentavam como a verdadeira fé, diante de uma série de doutrinas falsas. Isto é semelhante ao que chamamos de “Declaração de Fé”.
Assim foi formulado o Credo dos Apóstolos, dos séculos III e IV:
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor; concebido pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria; que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado,  e ao terceiro dia ressurgiu dos mortos; que subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica, na comunhão dos santos, na remissão de pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.
Este credo tem o propósito de rejeitar as doutrinas heréticas dos gnósticos e, principalmente, de Márcion. Portanto, é importante analisar detidamente nessas palavras proferidas.
O texto inicia declarando que Deus é “Todo-Poderoso”, isto é, Senhor, governador de tudo, tanto do mundo em forma material quanto espiritual. Deus não só governa o universo como é o “Criador dos céus e da terra”. Ao contrário do que ensina o gnosticismo, a Bíblia ensina que só há um Deus, o Todo-Poderoso e Criador de tudo o que existe nos céus e na terra.
Outra verdade que o credo declara é de que Jesus é o Filho do Deus “Todo-Poderoso”, declarado no verso anterior. Só existe um Deus, do qual o Senhor Jesus é Filho. Ao contrário do que dizia Márcion, de que Jesus era filho apenas do Deus do Novo Testamento.
Ainda, em relação a Jesus Cristo, a confissão fala do seu nascimento: “nascido da Virgem Maria”. Ele de fato nasceu, como homem, de “carne e osso”. Não apareceu repentinamente e do nada já na fase adulta, mas viveu experiências humanas. Ao fazer referência a “Pôncio Pilatos”, os cristãos estão declarando que Cristo é também um ser histórico. Aqui se busca dar uma data concreta, a fim de comprovar a Sua existência e de mostrar que ele não é um ser mitológico, como muitos gnósticos acreditavam.
A declaração de que Cristo “foi crucificado (...) assentou-se à direita do Pai Todo-Poderoso”, é utilizada para refutar o docetismo, o qual defendia que o corpo de Cristo não era real e que sua crucificação teria sido apenas aparente.
Por último, a respeito de Cristo, o credo ainda diz: “há de vir para julgar os vivos e os mortos”. Para Márcion, como mostramos anteriormente, o Deus Pai de Jesus é um ser amoroso, que não é vingativo, nem condena ninguém, diferentemente do deus Jeová. Porém, o que a confissão mostra é que até mesmo Cristo é um Julgador. Ele irá fazer justiça na sua segunda vinda.
Os cristãos queriam enfatizar a autoridade da igreja ao dizer: “Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica”, uma vez que ela tinha recebido o “depósito da fé”.

ÁRIO E O CREDO DE NICÉIA
Outras doutrinas heréticas que ameaçavam a verdadeira mensagem do cristianismo surgiram no início do terceiro século. Ário era um presbítero da cidade de Alexandria. A controvérsia em questão era relacionada à divindade de Cristo e a Trindade. Segundo Ário, apoiado por Eusébio de Nicomédia, Jesus Cristo, o Verbo, não é Deus, mas foi criado por Deus.
Após uma série de discursos no concílio de Nicéia, evento organizado para tratar do assunto em questão, aos gritos de “blasfêmia” contra Eusébio, este teve suas doutrinas condenadas pela maior parte dos que estavam presentes. A assembleia, então, decidiu compor um credo que expressasse a fé da igreja com relação às questões debatidas. O credo, o que conhecemos como “Credo de Nicéia”, exarado em 325 a.d. e revisado em Constantinopla em 381 a.d., chegou-se a forma que adiante segue:
Cremos em um só Deus, Pai, Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo e da Virgem Maria, e tornou-se homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim.
E no Espírito Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas. E na Igreja una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro.
Percebe-se que, no credo proferido, é dito que existe “um só Deus (...) Criador de todas as coisas”, para mostrar que os cristãos não são politeístas, como alguns heréticos julgavam em virtude da crença na divindade de Cristo.
O ensinamento de que Cristo é apenas um ser criado por Deus é diretamente excluído pelo credo ao dizer: “gerado pelo Pai (...) verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai”. Isto é, Jesus não foi criado por Deus e nem há diferenças ele e o Pai quanto à substância divina.

ÊUTICO E O CREDO DE CALCEDÔNIA
No quarto século, a controvérsia em questão era cristológica. Cristo é verdadeiramente Deus e verdadeiro homem? Alguns não conseguiam conceber o fato de em Cristo habitar duas naturezas depois da encarnação: humana e divina. Essa era a convicção de Êutico, um monge que morava em Constantinopla. Para ele, Cristo era consubstancial conosco. Vala ressaltar que pouco antes de Êutico, foi discutida pela igreja a frase “Maria mãe de Deus”. O que foi declarado pela igreja é que Maria era mesmo a mãe de Deus, não a fim de venerá-la, mas para confirmar que em Cristo há duas naturezas.
Para afirmar a condenação da doutrina eutiquiana, foi formulado, no concílio de Calcedônia em 451 A.D. a “Definição de fé”, o que conhecemos como Credo de Calcedônia, conforme segue adiante:
Fiéis aos santos Pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo, consubstancial com o Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado segundo a divindade pelo Pai antes de todos os séculos, e nestes últimos dias, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus; um e só mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo para formar uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho, o Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas desde o princípio acerca dele testemunharam, e o mesmo Senhor Jesus nos ensinou, e o Credo dos santos Pais nos transmitiu.
Os credos que analisamos nos ensina que devemos defender a nossa fé, não com debates sem fundamento, sobre assuntos que nem acrescenta nem diminui a vida cristã, mas sobre questões fundamentais do cristianismo bíblico; e que é muito importante o estudo da teologia, sem o qual não podemos falar de Deus nem de Sua palavra.



REFERÊNCIAS

González, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo vol. 1: a era das trevas. São Paulo: Vida Nova, 1995.
_______________. Uma história ilustrada do cristianismo vol. 2: a era dos gigantes. São Paulo: Vida Nova, 1995.
HURLBUT, Jesse Lyman. História da igreja cristã. São Paulo: Vida, 2002.

WALTON, Robert C. História da Igreja em quadros. São Paulo: Vida, 2000.

O Cânon do Novo Testamento

O que é o cânon?
O cânon (“regra ou pradrão”) do Novo testamento são todos os livros reconhecidos[1] pela igreja como sendo inspirados por Deus. Esses escritos são, portanto, as Palavras do próprio Deus, sendo dotado de autoridade suprema.
A palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no sentido ativo como no passivo. No sentido ativo, a Bíblia é o cânon pelo qual tudo o mais deve ser julgado. No sentido passivo, cânon significava a regra ou padrão pelo qual um escrito deveria ser julgado inspirado ou dotado de autoridade. (Geisler; Nix, 1997, p.63)
O cânon neotestamentário começou a ser reconhecido no próprio NT. O apóstolo Paulo, por exemplo, fez uma citação de Lucas 10:7 ou de Mateus 10:10 em I Timóteo 5:18, evidência de que o evangelho de Lucas ou Mateus era considerado Escritura. Outro exemplo podemos ver em II Pedro 3: 15,16, em  que o apóstolo Pedro classifica as cartas paulinas com “as demais Escrituras”, colocando em pé de igualdade com os escritos veterotestamentários. João reivindicou que o livro de Apocalipse é a Palavra de Deus que testifica sua visão em Apocalipse 1:2.
De acordo com Gundry (2008, p.114), os cristãos primitivos (pré-canônicos) não tinham disponíveis nenhum dos livros do nosso Novo Testamento, tinham, porém o Antigo Testamento, tradição oral das palavras e obras de Jesus e profecias de cristãos da época.

A necessidade do cânon
Sabe-se que “os escritos do Novo Testamento foram terminados pouco depois do início do segundo século” (HURLBUT, 2002, p.67). A essa altura cópias de alguns desses escritos estavam em circulação pelas igrejas. Os cristãos aos poucos reconheciam que os livros os quais eles tinham disponíveis eram inspirados, embora houvesse divergências com relação a outros.
Os livros que receberam reconhecimento imediato são chamados homolegoumena (grego – “confessados”), e os que, por divergências, foram reconhecidos somente mais tarde são antilegoumena (grego – “impugnados”).
Posteriormente surgiram situações em que a igreja precisou organizar todos os livros do NT.
A)  Surgimento de heresias
Márcion, nascido em 100 d.C., filho do bispo de Sinope, na região do Ponto, ensinava doutrinas que contradiziam a fé cristã, por isso, muitos se afastaram dele, o que o motivou a fundar sua própria igreja.
Ele acreditava que este mundo era mau e que o seu criador é Jeová, um deus inferior em relação ao Deus do Novo Testamento. Jeová, o deus do Antigo Testamento, é um deus arbitrário, vingativo e ciumento; enquanto Deus, o Pai de Jesus, é Deus de amor e Justiça. Em sua obra Antíteses, procurou estabelecer uma incompatibilidade entre a Lei e o Evangelho.
O gnosticismo (“gnosis”, “sabedoria” ou “conhecimento”), que buscava uma reinterpretação (interpretação alegórica) da fé cristã de maneira incompatível a fé apostólica.
Visto que toda a Escritura era proveitosa para a doutrina (2Tm 3.16,17), tornou-se cada vez mais necessário definir os limites do legado doutrinário apostólico, necessidade de saber que livros deveriam ser usados para ensinar a doutrina com autoridade divina tornou-se questão que exercia pressão cada vez maior, por causa da multiplicidade de livros heréticos que reivindicavam autoridade divina (Geisler; Nix, 1997, p.103).

B)  A mensagem escrita
Outra necessidade e não menos importante é a de registrar por escrito o cumprimento da promessa de Deus no Antigo Testamento. O evangelho de Jesus foi pregado em todos os lugares pelos apóstolos, que, por sua vez, utilizavam apenas o Antigo Testamento. É importante ter o evangelho de Cristo registrado, pois por meio dele o homem pode obter a salvação e a vida eterna (João 20:31).

Os critérios para o cânon
Geisler e Nix (1997, p.68) alistam cinco princípios sobre a descoberta da canonicidade:
1) O livro é autorizado — afirma vir da parte de Deus?
2) É profético — foi escrito por um servo de Deus?
3) É digno de confiança — fala a verdade acerca de Deus, do homem etc?
4) É dinâmico — possui o poder de Deus que transforma vidas?
5) É aceito pelo povo de Deus para o qual foi originariamente escrito — é reconhecido como proveniente de Deus?
O critério mais importante era o da apostolicidade, de acordo com GUNDRY (2008, p. 116), ou seja, se foram escritos pelos próprios apóstolos ou por homens que andaram com eles (Exemplo: Lucas foi companheiro de Paulo).

O concílio de Cartago (397 d.C.)
No concílio de Cartago em 397 d.C foram estabelecidos formalmente o cânon do Novo Testamento, com a ratificação dos 27 livros que conhecemos. Posteriormente, surgiram outros concílios, em virtude de ainda haver muitas divergências quanto ao uso de alguns livros.

Conclusão
Podemos perceber o quanto Deus guiou a igreja para reconhecerem aqueles livros os quais Ele quis nos revelar a Sua pessoa e a Sua vontade, bem como, para que possamos ter o conhecimento de Jesus Cristo revelado no Novo Testamento, sem o qual é impossível ter a justificação pela fé.




[1] Alguns autores utilizam a expressão “aceitos”. Contudo as Escrituras não necessitam de aceitação ou aprovação de quaisquer pessoas.



REFERÊNCIAS 
Geisler, Norman L.; Nix, William E. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou a nós. São Paulo: Editora Vida, 1997. [e-book]
González, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo vol. 1: a era das trevas. São Paulo: Vida Nova, 1995.
GUNDRY, Robert H. Panorama do novo testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
HALLEY, Henry Hampton. Manual bíblico de Halley. São Paulo: Editora Vida, 2002.
HURLBUT, Jesse Lyman. História da igreja cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002. [e-book]

SILVA, Antônio Gilberto da. A Bíblia através dos séculos: uma introdução. Rio de Janeiro: CPAD, 1986.