terça-feira, 21 de novembro de 2017

Rute: A novela da Redenção - Ep.01

Ep.01 | Misericórdia e lealdade em meio a tragédia (1.1-22)


Hoje iniciaremos uma série de mensagens no livro de Rute. Na verdade, começaremos a assistir [ouvir] uma novela: A Novela da Redenção no Livro de Rute. Uma história em quatro episódios. Talvez você compreenda novela em termos de televisão, apenas. No entanto, novela é um gênero literário muito utilizado por escritores, inclusive os escritores bíblicos. 

Novela é um gênero que contém uma breve história, com alguns episódios até atingir um desfecho, cujo objetivo é nos trazer uma lição. Veremos que nessa novela há a seguinte sequência: um problema (tragédia familiar), mais problemas, princípio de resolução do problema e desfecho com a resolução de todos os problemas. 

Aqueles que amam ler ou assistir romances irão amar o livro de Rute, pois aborda a relação romântica entre um homem e uma mulher. Há também o suspense e uma situação em que parece não haver solução. Também é uma história marcada por heroísmo. Mas, o principal objetivo dessa história é mostrar como a novela de Rute está relacionada com a história da nossa redenção.

Vejamos, então, o que nos reserva o primeiro episódio dessa novela.


Um período sombrio (vv. 1-5).

O verso um nos diz que os eventos a seguir ocorrem no período dos juízes, aqueles que julgaram Israel no período entre a morte de Josué e a coroação de Saul como rei. Certamente você deve se lembrar de como era essa época. O último versículo de Juízes diz: 

“Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21.25; cf. 17.6).

O livro de Juízes nos mostra o povo na terra de Canaã se prostituindo ao seguir outros deuses. Deus havia ordenado ao povo que, ao entrar na terra, expulsassem todos os moradores de lá para que não caíssem na idolatria deles. Mas o povo desobedeceu. Dessa forma, Deus enviava inimigos à Israel, o povo clamava pelo Senhor e Deus suscitava juízes para livrar o povo. Este era o ciclo desse período sombrio.

Assim, o livro de Rute tem como contexto histórico a época dos juízes, em que o povo de Deus O desprezava seguindo outros deuses, quebrava Suas leis e rejeitavam ao Senhor. Porém, embora o livro retrate a época dos juízes de Israel, a obra foi escrita depois dessa época, provavelmente durante o reinado de Davi (cf. 4.13ss). O escritor do livro é incerto, embora a Bíblia judaica apresente o profeta Samuel como provável autor.


Fome e Dor

O verso um, ainda, nos diz que houve fome na terra. Trata-se da terra de Judá e não em todo o planeta Terra, mesmo porque o refúgio daquela família seria a terra de Moabe, onde teria mantimento. Não temos aqui - especificado – se essa fome era um castigo de Deus ao povo de Judá. Mas olhemos para o que diz Levítico 26.3-4: 

3 Se andardes nos meus estatutos, guardardes os meus mandamentos e os cumprirdes, 4 então, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua messe, e a árvore do campo, o seu fruto”.

Ao que parece, tal fome é a mão pesada de Deus sobre um povo desobediente. Escassez de chuvas – nós nordestinos sabemos bem disso – resulta em grande tragédia na terra. Foi o que aconteceu naqueles dias.

Em razão da fome, Elimeleque, sua esposa Noemi e seus filhos Malom e Quiliom (v.2) resolveram sair de Belém de Judá (9 km de Jerusalém) para ir até Moabe, uma terra pagã que oprimiu Israel por 18 anos durante o período dos juízes (cf. 3.12-30). Naquela circunstância Deus usou Eúde para matar Eglon (rei gordo de Moabe) com um punhal. 

Para piorar a situação, além de ser uma época de apostasia e desprezo às leis de Deus, da fome que assola a terra dos hebreus e a viajem a outra terra, o marido de Noemi morre (v.3). Aqui está Noemi, viúva e com dois filhos em terra estrangeira. Poderia piorar?

A segunda geração da família (Malon e Quilion) se casa com mulheres estrangeiras, moabitas: Orfa e Rute (v.4), o que era proibido na lei de Deus (Dt 7.1-4). Após dez anos os filhos de Noemi morrem (v.5). O texto não explicita, mas fica-nos uma pergunta no ar: seria tudo isso, ainda, a mão do Senhor pesando sobre aquela família por misturar-se com povo estrangeiro? Não está claro. Porém, em meio a toda essa tragédia, percebemos o agir de Deus em prol do Seu povo e a realização do Seu plano redentivo.

No verso 5, final da introdução do livro, temos a situação em que Noemi se encontra: desamparada dos filhos e do marido. É assim que se inicia esta novela, num período sombrio, em meio a fome e a dor do luto. O que virá diante dessa tragédia?


Lealdade a caminho de Belém (vv. 6-18).

Noemi e suas noras resolvem voltar para Belém (“casa de pão”) de Judá, pois Deus se lembrou do seu povo, dando-lhe pão (v.6). Aos poucos o Autor da Novela vai mudando o ruma da trama. Nesta cena notamos as tentativas de Noemi de despedir suas noras Orfa e Rute, incentivando-as a voltarem para Moabe.

Na primeira tentativa (vv.7-10) Noemi pede que elas voltem e ora para que o Senhor seja misericordioso com elas, como elas foram com sua sogra. A ideia de Noemi era: “Vão e sejam felizes, vocês já fizeram muito por mim”. Mas elas se recusam a voltar e querem ir com Noemi.

Na segunda tentativa (vv.11-14) Noemi argumenta que ela não tem nada para oferecer à suas noras. O costume do povo hebreu, tendo como base Deuteronômio 25.5-10, era que quando o marido morresse seu irmão ou parente próximo se casaria com a viúva para continuar o nome do falecido. Quando Noemi diz que não tem filhos para se casar com suas noras, está se referindo a esse costume. Para Noemi, o nome de sua família “já era”. Suas noras poderiam casar-se novamente em Moabe, mas ela não tinha nada a lhes oferecer. O que restava para alguém na condição de Noemi era a mendicância.

A única coisa que Noemi tem, naquele momento é amargura (v.13), mas ela não queria compartilhar isso com suas noras. Orfa a deixou, mas “Rute se apegou a ela” (v.14). Rute se apegou a Noemi mesmo quando esta não tinha nada a lhe oferecer.

Na terceira tentativa (vv.15-18) Noemi pede a Rute que faça o mesmo que Orfa, ou seja, que volte para o seu povo e para os seus deuses (v.15). Aqui notamos a conversão sincera de Rute. Ela rejeitou o deus moabita (Quemos) e se voltou para o Deus de Noemi, Javé (v.17).

Lembremos que a conversão no AT é relatada de uma maneira diferente do NT, embora seja da mesma forma, pela fé. Primeiramente, Rute declarou que faria parte do povo de Israel, o povo da Aliança (v.16). Isso caracterizava a sua crença igual a dos hebreus. Em segundo lugar, Rute demonstra sua fidelidade ao Senhor ao querer estar na terra da promessa (v.17), assim como José, no Egito, quando pediu para que seus ossos fossem sepultados em Canaã (Gn 50.25; Êx 13.19). Ela demonstrou ter a mesma fé que sua sogra. Em terceiro lugar, ela demonstrou sua fé ao escolher adorar Javé, o Deus de Noemi ao invés de Quemos (v.17). Temos aqui, portanto, um vislumbre do plano de Deus explicitado no NT com relação à salvação dos gentios.

É maravilhoso notar que Rute se apega a Noemi mesmo diante das expectativas ruins que ela tem acerca do futuro. Mesmo não tendo mais esperanças para o futuro, Rute decide ficar com sua sogra que nada lhe tinha a oferecer. Rute demonstra sua lealdade e misericórdia para alguém que estava no fundo do poço. 

Notamos também uma mulher de fé mesmo numa situação adversa. Rute poderia ter pensado: “Voltarei para minha casa, minha terra, meus parentes e amigos. Vou fazer o que na terra dos israelitas, com uma mulher que Deus abandonou?” Ao contrário disso, Rute disse a Noemi: “Não deixarei você. Seu Deus é meu também”. Fé, lealdade e misericórdia diante de uma grande crise.

Noemi demora para entender as coisas da perspectiva divina. Os versos 19-22 mostram que, na chegada a Belém, as pessoas perguntam por Noemi e ela diz: “Não me chamem de Noemi, mas de Mara” (amarga), pois o “Todo-Poderoso me tem afligido” (v.20, 21). Repare que Noemi não reclama de Deus, mas o chama de Todo-Poderoso, enfatizando a sua crença na soberania de Deus. Ela não está reclamando de sua situação diante das pessoas, mas enfatiza que Deus permitiu que ela assim estivesse. O que ela esqueceu é que Deus tem propósitos maiores na vida dos seus filhos.

Lembremos de José que teve sua vida virada de cabeça para baixo por causa da inveja de seus irmãos. Deus tinha planos maiores para a vida dele. Jó também foi provado mais do que qualquer um de nós, mas depois pôde dizer: “Antes eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem” (Jó 42.5). Lembremos também de nosso Senhor Jesus, mesmo sendo Deus suportou todo o sofrimento nesta terra porque tinha em vista o plano maior do Pai, a nossa salvação. Noemi sabia que era Deus agindo naquela situação, porém, sua amargura não a permitiu enxergar as coisas na perspectiva divina, entendendo que Deus tinha um plano maior em sua vida. Mal sabia ela o que o Senhor reservara para ela e Rute nos episódios seguintes. Mal sabia Rute o rumo que essa novela iria tomar graças ao seu gesto de misericórdia.


Conclusão

Algumas lições ficam claras nesse primeiro episódio. Primeiramente, Deus é soberano sobre tudo, e isto inclui o sofrimento. A fome e escassez, a viuvez e a morte dos filhos, o desamparo que afetou Noemi e suas noras estavam no plano de Deus. Da mesma maneira, momentos difíceis que passamos aqui estão em Seu plano eterno. Não sabemos os “por quês” e, creio, não precisamos saber. É preciso confiar em Sua soberania.

Talvez o seu problema esteja relacionado à falta de dinheiro ou de mantimentos; as coisas andam ruins em sua família; ao que parece, o Todo-Poderoso tem permitido você passar por um período amargo e você não entende porque isso está acontecendo em sua vida. Ainda assim, confie na soberania do Senhor pois Ele pode estar preparando algo maravilhoso para a sua vida.

Quando nos cercar o mal, se rugir o temporal, 
Em Jesus vou confiar, Ele nunca vai falhar. 
Quando a dor ou aflição vem turbar meu coração,
É preciso confiar e nunca duvidar. 

Pois é perfeito o Seu caminho. 
Nem sempre entenderei, porém, O seguirei. 
Pois é perfeito, o Seu caminho. 
Faze, ó Deus, de mim um vaso puro, sim. 
Erros Deus não faz; Pois me dá paz.
(Hino 321, Voz de Melodia)

Em meio a tragédia, podemos confiar nos planos de Deus, pois Seu caminho é perfeito.

A segunda lição que quero deixar é que devemos ter um coração misericordioso e bondoso como o de Rute. Ela sabia que não teria nada de Noemi pois sua situação era miserável. Ainda assim Rute se apegou a ela e não quis deixá-la só, mesmo que isso custasse viver ambas na miséria como indigentes. Rute não quis deixar Noemi. Precisamos ter um coração como o de Rute.

Geralmente nos aproximamos das pessoas esperando que isso nos traga algum benefício ou que se adeque aos “meus interesses”. Fazemos o bem esperando ser recompensados. A parábola do Bom Samaritano ilustra bem o dever de fazer o bem de forma desinteressada, sem querer nada em troca. Isso é o que Deus requer de nós.

Em terceiro lugar, a história de Noemi e Rute nos ensina sobre o valor da amizade em dias ruins. Rute não desistiu de estar com Noemi e apoiá-la quando ela estava vivendo em amargura. “Em todo o tempo ama o amigo e na angústia se faz um irmão” (Pv 17.17). Precisamos ser amigáveis como Rute e apoiar aqueles que precisam de nós em momentos difíceis.

Em quarto e último lugar, esse primeiro episódio nos ensina que nunca saberemos o que um gesto de misericórdia pode proporcionar ao futuro. Rute não tinha ideia de que aquele gesto seu para com Noemi fizesse com que ela fosse contada na linhagem do Messias (4.17-22; Mt 1). Isso me lembra da história de Sir Nicholas Winton, um homem que - em total silêncio e sem alarde - organizou o resgate e passagens para a Grã-Bretanha de cerca de 669 crianças judias da Tchecoslováquia, em sua maioria destinados aos campos de extermínio nazistas antes da Segunda Guerra Mundial.

Sir Nicholas nunca contou a ninguém o que tinha feito até a sua mulher, numa ida ao sótão, vários anos depois, ter descoberto o que ele fez e publicado suas ações. Em 1998, num programa da BBC, foi organizado um encontro dele com algumas pessoas salvas por ele. Num dado momento, foi pedido que todos os salvos por ele se levantassem na plateia. Várias pessoas se levantaram. Nicholas Withon, com seu ato de misericórdia, preservou a vida de centenas de pessoas e proporcionou o crescimento e surgimento de várias famílias. Ele jamais imaginaria que seu ato de misericórdia proporcionasse a ele, no futuro, ver tantas famílias que ele ajudou a preservar.

Sejamos bondosos e misericordiosos como foi Rute. Um pequeno gesto aqui pode fazer uma grande diferença lá na frente. Confiemos no Senhor mesmo em dias ruins. O melhor está por vir. Amém!

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Qual o remédio para a ansiedade?

Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus. - Filipenses 4:6-7

O jornal Estadão divulgou em janeiro de 2017 que o Brasil tem maior taxa de transtornos de ansiedade do mundo, segundo a OMS. De acordo com a pesquisa, o país ainda é o quinto em casos de depressão. Segundo a OMS, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. Fatores socioeconômicos, como pobreza, desemprego, e ambientais como o estilo de vida em grandes cidades, pesam nesse cenário.

A simples ansiedade pode ser definida com o sentimento de quem vive no futuro, se preocupando com o que ainda estar para acontecer. Isso pode gerar desconforto, medo, vertigens, irritabilidade, insônia e vários outros sintomas. Pode também gerar problemas mais graves como depressão e ataque de pânico, por exemplo.

Qual o remédio para a ansiedade? A ansiedade tem sido tratada com medicamentos e/ou consultas em psicólogos e psiquiatras. Quando alguém se sente ansioso logo procura um “profissional da área”, alguém que entenda da “alma”. Mas o que a Bíblia pode nos dizer a respeito? Será que existe um bom remédio para quem está ansioso com o amanhã?

O apóstolo Paulo nos mostra, em Fp 4.6,7 (Ler), que a oração é o remédio para a ansiedade. Ele nos diz para não andarmos ansiosos de coisa alguma. A palavra andar ansioso (em grego é uma palavra) significa estar preocupado. Pelo que não devemos estar preocupados? Por nada. É isso que significa coisa alguma. 

Por que não devemos andar ansiosos? Em primeiro lugar, embora seja algo comum em nós, as preocupações atestam nossa falta de confiança na sabedoria, na soberania e no poder de Deus. Não precisamos saber como será o nosso futuro, como disse certo pastor, basta confiar naquele que o controla. 

Em segundo lugar, não podemos acrescentar nada à vida com nossas preocupações. Em Mateus 6.27, o Senhor Jesus questionou seus discípulos sobre a ansiedade: “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?” (NVI). 

Quando somos tentados a carregar o peso das preocupações em nossos ombros frágeis e humanos, lembremos que o melhor remédio que temos a nossa disposição para lutarmos contra a ansiedade é a oração. Leve tudo a Deus em oração (v.6), é o que diz o apóstolo. 

“em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica”. Há algo de maravilho demais nessa frase. Quando oramos, nos colocamos diante do Senhor, tal qual um súdito na presença do seu rei soberano. A oração é o lugar que nos faz estar diante de Deus. Portanto, Deus está em Seu santo trono à disposição de nos ouvir, sejam quais forem as petições.

“em tudo” [...] “com ações de graças”. Essa frase indica que devemos orar em gratidão em todas as situações da vida, quer sejam agradáveis ou adversas (cf 1Ts 5.18). Paulo fala em toda a epístola sobre alegria, sobre viver contente em qualquer situação.  Orar em gratidão é reconhecer que em toda e qualquer circunstância Deus é bom. 

Em 2.14 Paulo diz: "Fazei tudo sem murmurações". A palavra murmuração indica resmungo ou um desprazer secreto e não declarado abertamente. É o contrário de ser satisfeito em Deus. Muitas vezes, repito, muitas vezes, só estamos contentes quando nossas circunstâncias "favorecem". É fácil estar contente quando se tem um ótimo salário, quando se tem uma ótima casa, quando se tem todos os amigos à sua disposição, quando não há conflitos no lar, quando os filhos são obedientes, quando o emprego é o emprego dos sonhos... Seríamos gratos a Deus quando não temos tudo isso? Ou quando nos falta muitas delas? Paulo diz: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (v.11) e por isso ele  disse: “tudo posso naquele que me fortalece” (v.13).

Mesmo quando as coisas não vão bem e estamos ao ponto de mergulhar no mar da ansiedade, devemos orar em gratidão pois temos Alguém que nos ouve e que não nos deixa sós em nenhum momento. O melhor remédio para a ansiedade é a oração.

O remédio prescrito pelo por Paulo traz um ótimo resultado. Somos guardados pelo Deus da paz (v.7). Ele guarda nosso coração e nossa mente em Cristo com sua paz. Nos mostra que a melhor maneira de lidar com as preocupações e não carregá-las conosco, mas lançar sobre Ele, pois Ele tem cuidado de nós (1Pe 5.7). Conforme nos diz o hino, perdemos a paz muitas vezes porque não oramos:

Oh, que paz perdemos sempre
Oh, que dor no coração
Só porque nós não levamos
Tudo a Deus em oração

O que você fará a partir de hoje quando a ansiedade ou preocupação vier? Irá chorar sozinho para que ninguém veja? Vai se consultar com algum médico, antes de ir a Jesus? Você carregará o fardo sozinho, tendo pessoas a sua disposição para lhe ajudar e Deus em seu trono para te ouvir? Você vai confiar em Deus mesmo quando o mundo estiver desmoronando ao seu redor?

Musica no ministério infantil

*Algumas anotações sobre a importância da música no ministério infantil de sua igreja.


I – Por que cantar com as crianças?

A) As crianças podem louvar a Deus verdadeiramente (Mt 21:15,16; cf. Sl 8.1,2).

Hosana ao Filho de Davi. Os sacerdotes e escribas esperavam que Jesus repreendessem as pessoas que estavam louvando-o com essas palavras, inclusive as crianças. Mas Jesus disse: “Ué! Vocês não leram os salmos não? Lá diz que da boca das crianças saem um louvor perfeito.” O que as crianças declararam era a verdade. Jesus é, de fato, o Filho de Davi. Cristo afirma, então, a sinceridade no coração das crianças quando elas louvam.

B) Há um convite nas Escrituras para que todos louvem ao Senhor e isto inclui as crianças (Sl 148:12)
  1. O louvor das criaturas celestiais (vv. 1-6)
  2. O louvor das criaturas terrestres (vv. 7-14)
  3. *cf. Sl 145.21; 150.6
C) A música cristã transmite uma mensagem para todas as pessoas, isso inclui as crianças. 
  1. Ensino, Sl 25; 32:8; 34.11; Dt 4.10; Ed 7.10
  2. Edificação, Cl 3:16; Ef 5.19; Fp 4:8
  3. Evangelização, 1Co 15.3,4).
A música cristã é aquela que transmite uma mensagem das Escrituras que ensina, edifica ou fala da obra de Cristo, sempre visando o louvor a Deus.

II – Quais os benefícios que a musica pode trazer às crianças?

A) Auxilia na aprendizagem. 

Os hebreus tinham um método de aprendizagem da lei de Deus que também é bastante utilizado por nós: a memorização. Nós decoramos versículos. Eles decoram passagens inteiras da Lei.

Desde criança (cf. Dt 6) os hebreus aprendiam a lei, ficavam memorizando, colocavam (e ainda fazem isso) filactérios (caixinhas) com versículos na testa. Não é muito difícil um judeu não saber todo o pentateuco memorizado.

Em nossa cultura isso não é muito incentivado. Porém, a música é uma grande ferramenta para auxiliar no aprendizado da Palavra de Deus, tanto para nós como para as crianças.

"A Música é excelente recurso para auxiliar o desenvolvimento da criança, a fim de que seja atingido êsse [sic] nível de maturidade indispensável à aprendizagem. Assim, temos que, além de levar ao desenvolvimento geral, auxilia particularmente a coordenação motora, a acuidade auditiva, a acuidade visual, a memória, a atenção, etc" (COSTA; DEL VALLE, p. 13).

Acuidade significa capacidade de percepção. Com o auxilio da música, a criança desenvolve sua coordenação motora, desenvolve sua capacidade de ouvir (isso consequentemente o ajudará a desenvolver sua musicalidade), desenvolve sua acuidade visual (é o grau de aptidão do olho, para discriminar os detalhes) especialmente os que tocam instrumentos, ajuda a exercitar a memória (diferente dos hebreus, lembra?) e melhora a sua atenção.

Para os ministérios que desenvolvemos na igreja com crianças, a música é essencial para fazê-las ter atenção (acalmar as crianças em alguns casos) no momento do ensino da Palavra de Deus.

"Através da Música podemos criar ambiente favorável para o que se deseja ensinar, uma vez que ela é sempre agradável às crianças, desde que observados certos princípios em relação à música a ser dada, como o da qualidade, da adequação ao nível das crianças, a técnica de ensina usada, etc" (Ibid, p. 14, grifo nosso).

B) Auxilia na integração social.

"As atividades musicais compartilhadas, como o canto coletivo e a banda rítmica, são elementos que a um só tempo farão sentir êsses [sic] dois aspectos: o da necessidade de cooperação e o do respeito ao próximo, tão úteis na socialização da criança" (Ibid, p. 11).

C) Auxilia psicologicamente. 

Aqui a música funciona como um reforço, um auxilio para crianças tímidas ou muito agitadas. Ajuda a desenvolver um equilíbrio emocional.

III – Quais os critérios para o preparo dos cânticos infantis?

A) Deve obedecer ao propósito do ministério infantil que está sendo desenvolvido por sua igreja (CLUBIC, EBEC, OANSE, EBD, Classe de Cinco Dias, Berçário ou Culto Infantil).
  • Evangelizar, Edificar as crianças crentes e Implantar missões no coração da criança (EBEC).
B) A letra da música é o fator mais importante para comunicar bem a mensagem.
  1. Deve ser clara. Em caso de palavras desconhecidas explique.
  2. Deve ser bíblica (Cl 3.16). Não queremos dizer que deve conter necessariamente uma letra extraída da Bíblia. Mas deve falar das verdades dela.
    • Há músicas não cristãs que contém princípios bíblicos (Ex: A música “Não atire o pau no gato” ensina um princípio bíblico de não maltratar os animais [Pv 12.10]). No entanto pode cair no erro de não ser clara para. Além disso, há diferenças de contexto. 
    • Não pode conter erros doutrinários. (Obs: deve-se ter o cuidado com o acompanhamento musical para não tirar a atenção da mensagem).
    • Modifique a letra, se necessário.
      • As árvores balançam
      • Balançam, balançam,
      • As árvores balançam
      • Mostrando o amor de Deus. 
      • [ao invés de balançam como a brisa]
C) No ato da escolha das músicas, deve-se ter em mente o público alvo (berçário, culto infantil, etc).
  • Depedendo das crianças que você estiver ministrando, escolherá músicas mais curtas do que o normal (berçário). (Ex: É hora, é hora, é hora da história...)
D) É importante um aprimoramento da musicalidade do responsável pelos cânticos.
  1. Creio que não precisa ser alguém que seja um grande músico ou musicista. No entanto, é necessário que seja alguém que se esforce para fazer sempre o melhor.
  2. Professores mais tímidos devem treinar sua dinâmica, fazer exercícios para apresentar-se diante das pesssoas (Alguns tem mais facilidade de estar diante de uma igreja lotada do que diante de 20 crianças).
  3. O instrumentista deve estar sempre se capacitando.
IV – Como preparar cânticos para o ministério infantil?

A) Escolha as músicas. Uma das grandes dificuldades que tenho percebido entre aqueles que trabalham nessa área é a escolha das músicas.
  1. Dispomos de uma variedade de recursos para busca de cânticos na net:
    • Internet: Google!
    • Videos YouTube. Exemplos: Três Palavrinhas e Turma do Cristãozinho (mostrar).
  2. O livro Manual Prático para o Culto Infantil alista algumas sujestões:
    • Procure usar os quatro volumes de coletânea da APEC (procure no site a APEC).
    • Coletânia da JUERP, o Cantarolando.
    • Musicais da Turma do Printy.
    • Há diversos CDs e DVDs de cânticos infantis disponíveis em qualquer livraria evangélica.
B) Prepare slides ou cartazes com as letras dos cânticos. Coloque cânticos fáceis de decorar.

C) Utilize acompanhamento musical (Instrumental ou Playback). Melodia simples.

D) Seja dedicado, o ministério infantil é coisa séria. 


Referências
  • BECK, Fabiana Weischung; AITA, Luciana Pereira; CAMARGO, Maria Aparecida Santana. A experiência musical na educação infantil. Disponível em: http://www.unicruz.edu.br/seminario/artigos/humanas/. Acesso em 27/08/2015.
  • COSTA, Nïobe Marques da; DEL VALLE, Edna Almeida. Música na escola primária. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, [s/d].
  • LEONARD, Julie Hansen. Música: comunicação de louvor e adoração. Material de aula ministrada no Seminário Batista do Cariri, p. 11-13.
  • RANGEL, Rawderson; XAVIER, Manoel. Manual prático para o culto infantil. Curitiba: AD SANTOS EDITORA, 2006.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Soli Deo Gloria: Somente a Deus a glória

Romanos 11:33-36
33  Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
34  Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?
35  Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?
36  Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!


No AT Deus fez uma promessa a Abrão. Deus fez com ele uma aliança e prometeu abençoa-lo, dando uma descendência numerosa (fazendo dele uma grande nação incontável), mudou seu nome para Abraão e lhe prometeu uma terra. Seu filho Isaque foi herdeiro de tal promessa. Jacó, seu filho, teve doze filhos. Aqui a promessa feita a Abraão começava a ficar ainda mais clara pois os doze filhos se tornaram um grande povo. No Egito, após Deus usar José para preservar a vida dos seus irmãos, o povo cresce e causa preocupação aos egípcios.

O povo de Israel foi escravizado no Egito, pois o rei tinha medo que os hebreus se rebelassem e tomassem o Egito. Faraó mandou matar os recém nascidos do sexo masculino com o fim de acabar com o crescimento do povo, mas Deus lhes dá o crescimento. Deus concede a este povo a libertação do cativeiro egípcio por meio de Moisés. Este conduz o povo a terra que Deus prometera a Abraão. O povo desobedece a Deus e sofre suas consequências no deserto. O povo chega na terra prometida, usufrui das promessas de Deus, mas ainda em desobediência. Deus o entrega a outros povos (exílios assírio e babilônico).

Deus faz promessas de um Messias que viria para restaurar a nação de Israel. No entanto, a Bíblia diz que Ele veio para eles (os judeus), mas eles não o receberam (Jo 1.11,12). Por que a nação que Deus escolheu o rejeitou? O apóstolo Paulo trata sobre isso nos capítulos 9-11.

Embora Deus tenha escolhido Israel para ser o Seu povo, isso não significa que todos os judeus são salvos. Não é verdade que todo o Israel tem sua salvação garantida só pelo fato de serem descendentes de Abraão. O apóstolo Paulo nos mostra nos primeiros capítulos de Romanos que TODOS, tanto judeus como gentios, são pecadores (3.23).

No cap. 9, Paulo mostra as razões da incredulidade dos judeus, o por que de terem rejeitado a Cristo.
Apesar de Israel ser o povo escolhido por Deus no AT, não significa que todo o Israel (cada israelita) é salvo (3-6). Por que eles rejeitaram a Nova Aliança? Deus não prometeu que eles seriam salvos? Paulo explica que nem todos eles são, de fato, herdeiros de Abraão, mas aqueles que creem nas promessas (judeus e gentios). A salvação nunca foi um direito de nascimento baseado na descendência biológica, mas pela graça soberana de Deus (Deus escolheu Jacó, por exemplo, com base em sua soberana vontade, vv.11-13).

A eleição e rejeição de Deus é justa (v.14-18). Assim como endurece o coração ou usa de misericórdia com quem ele quer (17-18). Os judeus buscavam a salvação por meio da lei, transformaram a salvação num prêmio que pode ser conseguido por meio das obras. Eles rejeitaram a Cristo, com isso. Já os gentios, que não buscavam a salvação, alcançaram apenas por fé (30-33). Paulo mostra que vivemos, desde a morte de Cristo, numa nova dispensação, numa nova era: a era da igreja.

No capítulo 10 temos a oração de Paulo (v.1). Ele ora pela salvação dos judeus pois eles têm zelo por Deus (v.2, como os fariseus tinham). Eles procuravam estabelecer sua própria justiça, isto é, ser justificados pelas obras da lei, à parte de Cristo. A justiça de Deus se alcança por meio da fé somente (9,10) e essa fé vem por meio da pregação (17). Assim, os judeus precisam ser evangelizados como quaisquer outros descrentes.

Israel é indesculpável por rejeitar ao Senhor, mesmo que o endurecimento deles fizesse parte do plano de Deus. Por que são indesculpáveis? A revelação natural testifica de Deus (18,19); Moisés já havia advertido o povo (19); Isaías profetizou sobre a plenitude dos gentios [era da igreja] (20); Israel sempre demonstrou rebeldia (21).

O capítulo 11 nos mostra que, apesar do endurecimento do coração dos judeus, Deus tem um plano futuro para Israel. Paulo utiliza alguns exemplos para mostrar que Deus ainda tem planos para com Israel:

1.       O próprio Paulo (1)
2.       Elias e os sete mil que não se dobraram à Baal (2-6). Deus tem, hoje, um remanescente de Israel que crê nEle e no Messias. [detalhe “a quem de antemão conheceu”,v.2 | a eleição de Deus garante a salvação do remanescente fiel, 8.28,29].
3.       Isaías: O endurecimento fazia parte do plano de Deus (7-8).
4.       Davi falou sobre o endurecimento de Israel (9-10).
A rejeição de Israel fazia parte do plano de Deus, pois, através disso, veio a salvação aos gentios (11). O endurecimento de Israel está servindo ao propósito de Deus.

Paulo utiliza uma ilustração para falar da rejeição de Israel – plenitude dos gentios – restauração de Israel: vv. 17-23: “ramos naturais quebrados” [judeus e sua rejeição] – “ramos de oliveira brava enxertados” [gentios] – “ramos naturais” enxertados de volta [restauração de Israel no futuro, reino milenar].

Deus não rejeitou Israel para sempre, embora seja inimigo do evangelho (27-29). Entretanto, Deus os elegeu e sua decisão é irrevogável (29). Deus dá como certa a salvação do remanescente fiel de Israel.
Assim como nós fomos alvos da misericórdia de Deus, sendo nós desobedientes, Israel receberá misericórdia de Deus mesmo sendo desobedientes (30-32). A salvação sempre foi pela graça, seja para judeus ou para gentios.

Os versos 33-36 nos mostra que Deus deve ser louvado por suas maravilhas, por seus designios, por suas decisões, sua sabedoria, sua soberania.

Por que estou lhes apresentando tanta informação? É isso o que o apóstolo Paulo faz aqui. Ele argumenta que todos são pecadores, que somos salvos por meio da fé; que o crente não tem mais condenação; que nada pode nos separar do amor de Deus; que ele nos salvou por meio da graça soberana. Ao reconhecer que a nossa salvação vem de Deus e não de nós mesmos, que Ele nos garante a salvação e não a perdemos, qual deve ser a nossa reação? Louvar a Deus. Por que? Porque só a Deus deve ser dada toda a glória, tendo em vista que nada, ABSOLUTAMENTE NADA fez com que Ele se importasse conosco, a não ser o Seu amor. Nada, ABSOLUTAMENTE NADA fez com que Ele tomasse Suas decisões eternas em nosso favor. Tudo o que Deus faz é para a sua glória. É dele, por meio dele e para Ele. Deus se importa mais com Sua glória.

Deus salva para a Sua glória, Deus condena para a Sua glória. Nenhuma atuação externa “mexeu” no coração de Deus para que Ele salvasse ou condenasse alguém. Ele nos salva por sua soberania, porque os seus desígnios são absolutamente ricos em sabedoria. Tudo isso é motivo de sobra para reconhecermos que a glória deve ser dada apenas a Deus.

Deus nos criou para a Sua glória (Is 43.6-7; 1Co 10.31). “Deus nos cria para Sua glória, ou seja, para magnificar, revelar e exibir a sua grandeza, e, então, Ele nos diz para vivermos dessa forma, vivermos de modo que a grandeza de Deus seja exibida” (John Piper).


Foi tudo feito por Deus. Tudo foi feito por meio de Deus. Tudo foi feito para Deus. Irmãos, não se trata de mim e de você, mas de Deus. Ele nos criou para Ele. Em tudo devemos glorificá-lo, exaltá-lo. Por isso, tenho que deixar claro que em todas as circunstâncias da vida Deus deve ser considerado. Tudo o que vou fazer Deus tem de vir a minha mente. “Senhor, isso te alegra?” Não estamos vivendo nossa história, mas a história de Deus. Portanto, tudo deve ser para Ele. Amém!

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Sola Gratia: O doce som da graça

11 Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens,  12  educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente,  13  aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus,  14  o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2:11-14)


Em torno de 1750, John Newton era o comandante de um navio negreiro inglês. Os navios fariam o primeiro percurso de sua viagem da Inglaterra, quase vazios, até que chegassem na costa africana. Lá os chefes tribais entregariam aos europeus as "cargas" compostas de homens e mulheres, capturados nas invasões e nas guerras entre as tribos. Os compradores selecionariam os espécimes mais finos, e os comprariam em troca de armas, munição, licor, e tecidos. Os cativos seriam trazidos, então, a bordo e preparados para o "transporte". Eram acorrentados abaixo das plataformas para impedir suicídios. Eram colocados de lado a lado, para conservar o espaço, em fileira após a fileira, uma após outra, até que a embarcação estivesse "carregada", normalmente com até 600 "unidades" de carga humana.

Os capitães procuravam fazer uma viagem rápida, esperando preservar ao máximo a sua carga; contudo, a taxa de mortalidade era alta, normalmente 20% ou mais. Quando um surto de disenteria ou qualquer outra doença ocorria, os doentes eram jogados ao mar. Uma vez que chegavam ao Novo Mundo, os negros eram negociados por açúcar e o melaço, para manufaturar o rum, que os navios carregariam à Inglaterra.

John Newton transportou muitas cargas de escravos africanos trazidos à América no século 18. Os escravos não podiam falar, gritar, esbravejar, então eles cantavam apenas com sons sem pronunciar palavra alguma, todos juntos, o ritmo de uma música.

No mar, em uma de suas viagens, o navio enfrentou uma enorme tempestade e afundou. Newton ofereceu sua vida à Cristo, achando que iria morrer. Após ter sobrevivido, ele se converteu e começou a estudar para ser pastor. Nos últimos 43 anos de sua vida ele pregou o evangelho em Olney e em Londres.

No túmulo de Newton, lê-se: "John Newton, uma vez um infiel e um libertino, um mercador de escravos na África, foi, pela misericórdia de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que ele tinha se esforçado muito por destruir."[1]

É isso que a graça do Senhor faz conosco: nos transforma por completo.

Até aqui falamos de três pilares importantes, ou heranças, da Reforma Protestante. Vimos que a Palavra de Deus é suficiente [sola scriptura], que Cristo é a nossa autoridade suprema [solus christus] e que somos justificados pela fé [sola fide]. Hoje falaremos da graça de Deus [sola gratia]. Assim, quero apresentar, a partir de Tt 2.11-14, três verdades acerca da graça de Deus.

Em primeiro lugar, a graça de Deus se manifesta na salvação  (v.11).

Graça é um favor que nos é concedido. É um ato de bondade, misericórdia ou uma bênção recebida. No NT a palavra graça aparece mais como uma dádiva de Deus em nosso favor. A graça é a livre disposição de Deus em favor do homem. É livre porque independe do que os homens possam lhe oferecer (se é que podem). Deus concede graça ao homem de maneira livre, visto que se trata de conceder algo que pertence a Ele. Aparece nas Escrituras como contrastando com a dívida (Rm 4.4 [Abraão], 16; com as obras (Rm 11.6) e com a lei (Jo 1.17).[2]

Aqui no verso 11 nos é dito que essa graça divina "se manifestou salvadora". Em que sentido se manifestou salvadora? A palavra manifestar indica uma aparição clara ou até mesmo visível. Deus manifesta a Sua graça a nós de diversas maneiras: em nossas famílias, em nossas amizades, no trabalho ou estudos, nos sustentando, na saúde, etc. Mas, a graça de Deus se tornou ainda mais clara a nós na salvação. A graça de Deus se tornou visível por meio da cruz de Cristo. A graça divina se manifestou salvadora.

O adjetivo salvadora, no grego, é usado aqui por Paulo para descrever a graça de Deus. É a graça que traz salvação. A graça de Deus que nos salva. A graça de Deus e manifestou trazendo salvação. Algo que é impossível ao homem, mas não para Deus (cf. Mt 19.25,26). É impossível aos homens por causa de sua condição (cf. 1:15).

Acontecimentos recentes nos fazem perceber a que ponto tem chegado a corrupção do homem. Em nome da “arte” coisas abomináveis têm sido apreciadas pelo homem moderno. Chegará um dia em que a pedofilia, por exemplo, não será considerado crime, como já acontece com outras abominações. De certa forma, não é algo que deve nos espantar pois o homem é corrupto em seu coração (Jr 17.9) e só a graça de Deus pode salvá-lo dele mesmo. A graça de Deus é suficiente para quebrantar o coração humano.

Quando o texto diz que a graça “se manifestou salvadora a todos os homens”, isso não significa que Paulo está ensinando o universalismo (que a graça de Deus irá salvar a todos os homens), mas que a salvação pela graça foi manifestada a todos sem distinção, sem acepção de pessoas. Não quer dizer todos sem exceção, indicando cada pessoa do mundo. Isto significa que Deus pode transformar qualquer tipo de pessoa pela sua maravilhosa graça.

Foi por essa graça que eu e você fomos salvos. Ninguém pense que fez por onde. De maneira nenhuma. Se não fosse Deus, com sua graça, ainda estaríamos perdidos sem Cristo e sem vida.

Em segundo lugar, a graça que se manifesta na salvação nos ensina a abandonar o mundanismo (vv. 12-13).

A palavra educar, utilizada aqui em nossa versão (ARA), indica instrução ou ensino (paideia). É daí que vem a palavra pedagogia.  A graça salvadora nos ensina a renegar ou abanonar a impiedade e paixões mundanas. Impiedade diz respeito a todo tipo de perversão e maldade. Ímpio é alguém que desafia e menospreza as leis de Deus. Judas relata que os ímpios andam segundo o seu desejo mau (ímpias paixões).

Por que os descrentes são chamados nas Escrituras de ímpios? Porque não respeitam a Deus nem suas leis e andam segundo suas paixões e desejos maus. São escravos de suas paixões (cf. Ef 2.3). Apenas a graça de Deus pode mudar o curso do ímpio. A graça de Deus também ensina o crente a se distanciar desse tipo de impiedade e das paixões mundanas (os desejos deste mundo caído, v. 12b).

A graça que se manifestou em nossa salvação nos ensina a abandonar o mundanismo e nos conduz a uma nova maneira de viver.

Primeiramente, Paulo declara que a graça de Deus nos ensina a vivermos de maneira sensata. Repare que isso é dito antes para alguns grupos da igreja em que Tito estava pastoreando, em Creta (1.5).  Ao falar sobre os deveres e qualificações dos ministros (presbíteros e bispos), nos é dito que uma das qualificações do pastor é ser sóbrio [sensato] (1.8). A orientação para os homens idosos é para que sejam sensatos (2.2). As mulheres idosas devem instruírem as jovens recém-casadas a serem sensatas (2.5). E agora Paulo diz que a graça de Deus nos ensina a vivermos de maneira sensata (v.12).

Agir com sensatez é viver de modo sóbrio, ter domínio próprio e governar todas as paixões e desejos, nos possibilitando ser conformados à mente de Cristo. A graça salvadora nos educa a reagir contra os nossos impulsos pecaminosos. O crente, alvo dessa graça, deve dominar seus impulsos e desejos do coração que vão contra à glória de Deus.

Perceba que aqui não vale aquela desculpa de que a carne é fraca. Temos que dominar os nossos desejos, pensamentos, impulsos, que nos levam a tropeçar. Tiago nos mostra em sua epístola que cada um é tentado de acordo com sua própria cobiça, quando esta atrai e seduz (Tg 1.14). Corresponder a esse desejo nos leva ao pecado (v.15). O diabo nos tenta em nossas fragilidades. Quais são seus desejos e impulsos pecaminosos mais intensos? Cuidado! A graça nos leva a vivermos de modo sensato.

Em segundo lugar, a graça de Deus nos ensina a vivermos de maneira justa. Viver de maneira justa é viver de acordo com aquilo que é reto. É viver de acordo com a justiça de Deus. O contrário disso é viver de maneira injusta, fora dos padrões de retidão de Deus. Nós não somos mais injustos (3.3). Ao sermos alcançados pela graça, na benignidade (3.4) e misericórdia divinas (3.5), fomos regenerados pelo Espírito para sermos declarados justos (3.7). Nossa justificação pela graça deve nos levar a sermos justos.

Em terceiro lugar, a graça de Deus nos ensina a vivermos de maneira piedosa. Viver de maneira piedosa é o contrário de viver segundo a impiedade (v.12b). É respeitar as leis de Deus e agir de maneira devota a Ele; viver em santidade. Vivemos de maneira piedosa quando praticamos as disciplinas espirituais: leitura da Palavra, oração, adoração, serviço, etc.

Ser cristão envolve devoção. Insisto. Ninguém é salvo porque diz que é salvo. Um cristão vive piedosamente em Cristo Jesus. Ao olharmos para o que Cristo fez por nós na cruz, o favor de Deus ao nos salvar, devemos ser impelidos à viver piedosamente.

Em quarto lugar, a graça de Deus nos ensina a vivermos na expectativa da volta de Cristo. A graça salvadora nos educa a vivermos numa esperança escatológica: a volta de Cristo. O futuro escatológico, especialmente relacionada a vinda do Senhor, deve moldar nosso estilo de vida no presente.

A graça salvadora nos leva a termos esperança na manifestação da glória. Glória de quem? “Do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. Essa construção gramatical (no grego) indica que está se referindo a uma única pessoa (cf. Ef 1.3 [“o Deus e Pai”, referindo-se à primeira Pessoa da Trindade). Essa construção em Tt 3.13 deixa explícita a deidade de Cristo, como em 2Pd 1.1. Nós aguardamos Cristo, o Deus que se fez carne. Assim como sua glória foi vista neste mundo (Jo 1.14), será vista novamente em sua segunda vinda. Isso deve moldar nossa vida no presente. Essa esperança deve nos trazer conforto e edificação (1Ts 4.18; 5.11), vigilância (1Ts 5.6) e esperança (1Ts 5.8,9).

A graça de Deus se manifestou salvadora, mas também educadora, pois nos ensina a abandonar o mundanismo e a vivermos neste mundo de maneira sensata, justa, piedosa e na expectativa da volta de Cristo.

A terceira e última verdade acerca da graça de Deus é que esta graça que salva e ensina nos purifica de todo pecado (v. 14). A graça de Deus nos redime e purifica do pecado.

O texto declara, de modo claro, que Cristo se deu por nós para nos remir. A palavra remissão diz respeito ao preço do resgate que foi pago por Cristo. Éramos escravos do pecado, mas Cristo nos comprou com seu sangue. A graça de Deus nos purifica de todo pecado e nos resgata do pecado.

A graça de Deus nos purifica de todo pecado para sermos Dele. Não pertencemos a nós mesmos, mas pertencemos a Ele. Ele nos comprou para sermos dele. Nós não temos vontade própria, somos de Deus. Fomos remidos para sermos Dele.

Ainda, a graça de Deus nos purifica de todo pecado para sermos operosos. Nossas obras indicam quem somos. Se não somos de Deus, nossas obras “deduram” isso (1.16). Não fomos salvos pelas obras, mas para as obras (3.8,14). A graça que nos purifica do pecado nos capacita para as obras, para servir ao Senhor.

Você não pode se contentar em apenas ser salvo do inferno. Você deve ser operoso, zeloso de boas obras. Infelizmente, a realidade de muitos crentes é o descompromisso com o trabalho do Senhor. Percebe-se isso quando pedimos que dê o nome aqueles que gostariam de ajudar em algum ministério específico na igreja. Alguns nem cogitam, nem pensam na possibilidade de servir. Lamentável. Deus não te chamou para ficar ouvindo pregação, para ouvir musica na igreja, para sentar no banco da igreja vendo os outros trabalhando. Você foi chamado para servir.

A graça do Senhor é suficiente para nos conduzir a salvação, para nos ajudar a perseverar lutando contra o mundanismo e para nos purificar do pecado a fim de servirmos a Deus. É tudo pela graça de Deus.

Lembra de John Newton? Um traficante de escravos que foi alvo da graça de Deus e passou a servir a Deus? Um mês antes de morrer ele disse as seguintes palavras:

“É extraordinário morrer; e, quando a carne e o coração enfraquecem, ter Deus como a força de nosso coração e nossa porção para sempre. Sei em quem tenho crido, e Ele é capaz de manter aquilo com que me comprometi naquele grande dia. De agora em diante, está reservada para mim uma coroa de justiça, a qual o Senhor, reto Juiz, me dará naquele dia”.[3]

Lembra da musica que era entoada [solfejada] pelos escravos, quando não podia falar? Depois de convertido, John Newton escreveu um hino utilizando aquela melodia. O nome da música é Amazing Grace (sublime graça). Ela diz assim:

Sublime graça! Como é doce o som,
Que salvou um miserável como eu!
Uma vez eu estava perdido, mas agora fui encontrado,
Estava cego, mas agora eu vejo.

Foi a graça que ensinou meu coração a temer,
E a graça aliviou meus medos;
Como preciosa essa graça apareceu,
A hora em que eu acreditei!

Através de muitos perigos, labutas e armadilhas,
Eu cheguei;
É a graça que me trouxe em segurança até o momento,
E graça vai me levar para casa.

O Senhor prometeu bom para mim,
Sua palavra assegura a minha esperança;
Ele será meu escudo e porção será,
Enquanto a vida dura.

Sim, quando esta carne e coração se falhar,
E a vida mortal, cessará,
Eu devo possuir, dentro do véu,
Uma vida de alegria e paz.

A terra em breve se dissolverão como a neve,
O sol deixar de brilhar;
Mas Deus, que me chamou aqui em baixo,
Será para sempre meu.

John Newton, Olney Hymns (London: W. Oliver, 1779)

A graça do Senhor é suficiente para nos salvar, nos manter salvos e nos levar para o nosso Lar. Amém!




[1] Wikipedia.
[2] Vine NT.
[3] John Piper, Raízes da perseverança, p.46-47.

Sola Fide: A justificação pela fé


Até o presente momento, vimos dois pilares da Reforma Protestante: Sola Scriptura e Solus Christus. Na primeira, vimos que as Escrituras são suficientes porque nos conduzem a salvação em Cristo, porque é um livro sobrenatural (inspirado por Deus) e porque ela nos capacita para toda a boa obra. Na semana passada, falamos que Cristo é suficiente, pois, é o único Mediador, única Autoridade para nós e, ainda, o único Salvador.

Hoje queremos falar sobre o terceiro pilar da Reforma, o Sola Fide, somente a fé. Sola fide é também conhecida como a doutrina da justificação pela fé e somente pela fé. Tal ensino distingue igrejas protestantes da Igreja Católica Romana, Igreja Ortodoxa e outras.

Após o acontecimento de 31 de outubro de 1517 (publicação das 95 teses), algumas confissões de fé luteranas e reformadas foram elaboradas, com o intuito de organizar o pensamento da Reforma Protestante. Daí surgiu as Cinco Solas.

A Igreja Católica respondeu à Reforma com a contra-reforma. No Concílio de Trento, em 13 de janeiro de 1547, o catolicismo respondeu sobre a doutrina da justificação pela fé. As principais afirmações foram: (1) que os pecadores são justificados pelo seu batismo, (2) que a justificação é pela fé em Cristo e pelas boas obras de uma pessoa, (3) que os pecadores não são justificados unicamente pela justiça imputada de Jesus Cristo, e (4) que uma pessoa pode perder sua posição de justificação. Todos esses pontos se fundem na seguinte declaração:

“Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, ou seja, que não é necessária nenhuma outra forma de cooperação para que ele obtenha a graça da justificação e que, em nenhum sentido, é necessário que ele faça a preparação e seja eliminado por um movimento de sua própria vontade: seja anátema” (Canon IX).

A Igreja Católica Romana claramente condenou a sola fide - não confessou que os pecadores são justificados somente pela fé. Enquanto nós, cremos na justificação pela fé.

Diante disso, vamos compreender o significado de justificação, sua necessidade, como podemos ser justificados e o aspecto prático da justificação.

O que significa justificação?

O que o AT fala sobre justificação? A palavra justificar, no hebraico (tsadác), significa absolver, fazer justiça, justificar, purificar; pronunciar que alguém é inocente; tratar alguém como se não fosse culpado. Vejamos um exemplo disso em Dt 25.1:

“Em havendo contenda entre alguns, e vierem a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado”.

Lembre-se que o livro de Deuteronômio significa “segunda lei”. É um livro da Lei que registra a repetição da lei de Deus ao povo de Israel. A lei do Senhor é um conjunto de mandamentos e preceitos. O mandamento aqui em Dt 25.1 é que ao haver contendas, brigas no meio do povo, que seja resolvido judicialmente, isto é, entre os juízes do povo. Aquele que for justo, isto é, inocente, deve ser justificado (declarado justo) e o culpado deve ser considerado culpado (o contrário de justificação).  Aqui você já percebe que a palavra justificação tem um significado forense, isto é, judiciário.

Outro exemplo em que a palavra justificação aparece no AT é no Salmo 143.2:

“Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente”.

Esse exemplo agora expressa a nossa relação com Deus e não com a justiça humana. A NVI traduziu este versículo da seguinte forma: "Mas não leves o teu servo a julgamento, pois ninguém é justo diante de ti". A palavra justo aqui empregada por Davi poderia ser traduzida por inocente. Ninguém é inocente diante de Deus. Se Deus for nos julgar Ele irá nos condenar e não justificar, pois somos "injustificáveis". Ninguém é justo diante de Deus.

Em Pv 17.15 nos é dito que justificar (inocentar) o perverso é condenável ao SENHOR. Deus é Justo e quer/deseja que se faça justiça entre os homens. Muitas pessoas não acreditam mais na justiça de nosso país. Temos políticos corruptos e condenados por corrupção que, pelo visto, podem ser eleitos nas eleições do ano que vem. Se essas pessoas forem consideradas inocentes, mesmo diante de tantas provas, eles não passam pela justa balança de Deus. Nem os condenados nem os juízes que os inocenta. Deus os condena. Inocentar (justificar) o perverso é condenável ao SENHOR.

Outro exemplo da palavra justificação agora remete ao futuro do povo de Deus. Uma promessa de Deus que um Homem que iria justificar a muitos. Vejamos Isaías 53.11:

“Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si”

Temos uma promessa acerca da justificação por meio do Servo Sofredor de Deus. Aquele que levaria sobre Ele mesmo as iniquidades, os pecados de muitos sobre si. Obviamente, o texto se refere ao Senhor Jesus, o Messias. Como ele justificaria (declararia justas) as pessoas? Levando sobre si os nossos pecados.

Percebemos, por meio das passagens do AT, que a justificação é uma declaração jurídica de que alguém é justo ou inocente. Percebemos também que só pode ser justificado (declarado justo) aquele que realmente for justo. Mas, no entanto, algo diferente estava para acontecer. Seríamos declarados justos mesmo sendo pecadores. Por que? Jesus, o Justo, receberia a pena da condenação em nosso lugar, conforme lemos em Isaías. Assim, justificação é ser declarado justo por Deus (o Juiz), tendo crido que Jesus pagou a pena que era nossa, levando sobre si as nossas iniquidades. Só podemos ser considerados justos diante de Deus por causa do Servo Justo, Jesus.

A necessidade da justificação ficou clara no Salmo 143.2, quando diz que ninguém é justo diante de Deus. Assim, carecemos que Deus nos considere justos ou seremos condenados por Ele.

No NT, a palavra justificação também diz-se de alguém que foi pronunciado como justo ou declarado (judicialmente) justo por Deus. Assim, temos um exemplo que descreve a necessidade de justificação. Vejamos Lucas 7.29:

“Todo o povo que o ouviu e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João”

O texto diz que os pecadores (e até mesmo os publicanos) reconheceram a justiça de Deus, isto é, foram justificados por Ele. Como isso fica evidente? Por terem sido batizados com o batismo de João. Lembrem-se que o batismo de João Batista não era nos mesmos moldes do batismo da igreja. Trata-se de batismo de arrependimento, como sinal de arrependimento pelos pecados. Simbolizava uma purificação do coração. Os que se arrependeram foram batizados por João e, assim, foram justificados por Deus ("reconheceram a justiça de Deus"). Assim, o arrependimento (mudar o rumo) produz a justificação do crente.

Como podemos ser justificados?

Somos justificados por meio da fé em Cristo, somente
“sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.”  (Gálatas 2:16)

Devo leiamos novamente o que diz o catolicismo sobre o assunto:

“Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, ou seja, que não é necessária nenhuma outra forma de cooperação para que ele obtenha a graça da justificação e que, em nenhum sentido, é necessário que ele faça a preparação e seja eliminado por um movimento de sua própria vontade: seja anátema” (Canon IX).

Tudo que precisamos é de fé em Cristo. Vejamos outro exemplo em Gl 3.11:

“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.” (Gálatas 3:11)

Paulo cita Habacuque 2.4, mostrando que a fé é suficiente para viver, isto é, ser salvo. Lembremos que foi isso que chamou a atenção de Lutero (cf. Rm 1.17). Diante da prática romana de estabelecer penitencias, rezas, negociar indulgências e perdão dos pecados, o monge viu que precisava apenas crer.

Ás vezes a fé não nos parece algo muito prático. Parece algo abstrato. O que precisamos para sermos justificados diante de Deus, sermos declarados justos por Ele? Apenas fé, crença! Isso não nos parece, as vezes, muito confiável. “Eu só preciso crer?”, questiona alguém. “Tem que ter algo a mais para ser feito”.

Era justamente isso que Paulo estava combatendo ao escrever a epístola aos gálatas. Havia-se infiltrado nas igrejas da Galácia a ideia de que Cristo salva, mas, não era suficiente. Precisava-se de algo mais: obediência a lei, guardar o sábado, circuncisão, cerimônias judaicas, etc. Paulo diz: “A fé é suficiente pois o homem é justificado pela fé, somente” e quem busca ser justificado por meio da lei se separa de Cristo e da Sua graça (cf. Gl 5.4).

Charles Finney (pai do movimento pentecostal) criticou a ideia de que uma vez justificado sempre justificado. Ele acreditava que o crente tinha que manter-se em santificação para continuar justificado. Ora, o que é isso se não for crença em salvação por obras? Para eu continuar salvo tenho que fazer por onde? Isso foge da graça.

Vejamos outro exemplo em Rm 4.2-5:

2 Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus.  3  Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.  4  Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida.  5  Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Romanos 4:2-5 )

Se a justificação fosse meramente por obras, teríamos motivos de se gloriar diante das pessoas (Abraão foi justificado pela fé). Pois quem trabalha é merecedor de receber o salário. O salário é uma dívida. Deus não tem dívida conosco. Mas, os que não trabalham para receber a justificação mas, apenas, crer, são justificados. A justificação é pela graça (cf. Tt 3.7).

A justificação tem um aspecto prático

Tiago nos mostra o outro lado da moeda. A fé tem um aspecto prático. A fé não é algo meramente abstrato, ela se manifesta nas obras. Vejamos:

“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” (Tg 2.21)

O que Tiago diz aqui não contradiz o ensino de Paulo sobre a justificação pela fé em Abraão. Ele fala do outro lado da moeda. Como sabemos que Abraão foi justificado? Que evidência temos de que ele creu em Deus? Ele ofereceu seu filho em fé. Abraão não apenas disse "eu creio no SENHOR", mas, como demonstração da sua fé, Abraão ofereceu Isaque ao SENHOR.

Um exemplo disso é quando alguém diz que crê em Jesus mas rouba, fofoca, fala palavrão, se veste de modo indecente, anda com más companhias, é um péssimo aluno na escola, não respeita as autoridades, não vive como um cristão... Você olha para essa pessoa e diz que ela é crente só porque ela diz? Não! As obras demonstram se essa pessoa foi justificada por Deus.

Assim, a justificação tem o seu aspecto prático. Temos que viver como pessoas justas diante dos homens.

Como você tem demonstrado que foi justificado pelo Senhor? As pessoas olha para você e glorificam a Deus? Nós cantamos: “Que os outros vendo-me glorifiquem a Ti, Santo Deus”, mas você está imerso em pecado e age como se não fosse um cristão justificado diante dos outros. Aqui na igreja você é de um jeito e lá fora é de outro. Viva conforme a justiça que Cristo atribuiu a você, se você é um cristão.

Gratidão por Cristo morrer por nós, o justo pelos injustos, para imputar Sua justiça aos que creem em seu nome.


Você que não é cristão. A Bíblia diz que você já está condenado, caso não creia em Cristo. Entregue-se ao Senhor hoje mesmo e Ele te justificará.

Solus Christus: A singularidade de Cristo



O mundo tem experimentado um grande crescimento numérico de adeptos à religiões. Estudiosos dizem que são criadas cinco novas religiões por dia. O Cristianismo ainda é a maior religião do mundo (2,1 bilhões), seguido pelo Islamismo (1,2 bilhões), hinduísmo (900 milhões), budismo (330 milhões), e outras religiões orientais e indígenas. Muitas das religiões são chamadas de inclusivistas, isto é, simpática em relação às demais religiões, entendendo que todas as religiões tem pontos em comum e que, portanto, nenhuma é superior a outra.

Perceba como funciona o inclusivismo. Há inúmeras religiões no mundo e, assim, inúmeros deuses e, certamente, mediadores entre as pessoas e esses deuses. Diante disso, o inclusivismo diz que não há uma religião correta, mas todas são corretas. Nenhuma é superior a outra. Assim, temos vários deuses e mediadores nas diversas religiões e todas estão corretas, segundo o pensamento inclusivista. Num mundo de pluralidade não há uma única verdade, mas, verdades (relativismo).

O Cristianismo é diferente de todas as demais religiões no mundo, pois é uma religião exclusivista, ou seja, afirma que é a única correta. Uma das verdades que faz do Cristianismo como uma religião única é a afirmação das Escrituras de que Cristo é único e superior a qualquer um, sejam divindades, sacerdotes, religiões. Cristo é Único.

Dessa forma, hoje queremos falar sobre uma segunda doutrina fundamental da Reforma Protestante que resume bem o Cristianismo, o Solus Christus (somente Cristo).

Como explicitado no último domingo, a Reforma surgiu como uma reação (especialmente) de Martinho Lutero contra a Igreja Católica. Vimos que o catolicismo nega o sola scriptura (somente a Escritura) ao colocá-la em pé de igualdade com a Tradição e o Magistério da Igreja. Vimos que as Escrituras são suficientes pois nos mostram a salvação em Cristo, por serem inspiradas por Deus e único meio de sermos aperfeiçoados para toda a boa obra.

O segundo ponto da reforma a singularidade de Cristo. Cristo é único. É suficiente. Lembremos que Lutero ficou chocado e irado ao perceber o esquema pecaminoso no qual a Igreja se meteu. Venda de indulgências por parte da Igreja, objetivando receber perdão dos pecados, penitências para ter os pecados cometidos perdoados, peregrinações (romarias) para buscar a salvação... Tudo isso entristeceu o monge agostiniano. Ao entender que a fé em Cristo é suficiente para a salvação [solus Christus], Lutero contrariou a Igreja.

Assim, Cristo é suficiente. Cristo somente. Essa é a mensagem das Escrituras. E não precisamos de mais nada, a não ser de Cristo somente e somente Cristo.

Há vários textos que mostra a singularidade de Cristo. O primeiro exemplo que pretendemos destacar nessa noite está em 1Tm 2.5, onde mostra que Cristo é o único Mediador.

“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”  (1 Timóteo 2:5).

Repare que o texto está falando de um dos ofícios de Cristo, o de Sacerdote (além deste, Cristo é Rei e Profeta). A palavra mediador indica o ofício sacerdotal, um intermediário entre duas partes, i.e., Deus e Seu povo. Repare também que o assunto de Paulo a partir do verso 1 é a oração em favor de todos os homens. Ele exorta que oremos por todos os homens, no verso 2 ele especifica esses homens: reis e demais autoridades. O propósito da oração (v.2): "para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito".

Devemos orar por todos os homens porque isso agrada a Deus (v.3) e Ele quer salvar tais homens (v.4). Aí vem o verso 5: "Porquanto há um só Deus e um só Mediador". Deus manda que oremos e indica que nossas orações são ouvidas por Ele pois há um Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus.

Outro detalhe importante é a humanidade de Cristo. Ele é o único mediador e só o pode ser porque Ele é homem, como nós. Embora seja Deus, ele também é homem, o Verbo que se fez carne (Jo 1.1). A importância de Cristo como um Sacerdote humano é descrito em Hb 4.14-16. Ele tem competência para nos assistir diante de Deus, pois Ele sentiu na pele as dificuldades que passamos. Assim, tendo Cristo como o único Mediador, podemos orar e sermos ouvidos por Deus.

Você já ouviu falar do crente “cês ora”? É aquele que, ao estar diante de um pastor ou diácono, ou um irmão mais experiente em vida cristã ou “mais espiritual”, diz: “fulanos, ‘cês ora’ por mim?”, achando que a oração dos outros é mais poderosa ou é mais fácil de chegar a Deus. As vezes o “pastor, ore por mim” pode ser uma expressão de confiança de um irmão na oração do pastor, como se a oração dele fosse diferente. Nós temos um Mediador, todos os crentes têm esse Mediador que intercede por nós ao Pai.

Dessa forma, irmãos, precisamos orar a Deus por nós. Confessar nossos pecados a Deus. nossas orações são ouvidas por Ele pois temos um sacerdote que tem total acesso ao Trono da Graça. Quando você passa por dificuldades, ORE! Quando estiver arrependido, ORE! Quando você não sabe o que fazer, ORE! Enquanto alguns confiam em sacerdotes humanos para lhes ouvir, temos a Cristo, que está a destra do Pai no Trono da Graça. Deus nos ouve por causa de Cristo, nosso Sumo Sacerdote. Cristo é o único Mediador.

Outro exemplo acerca da singularidade de Cristo está em At 4.12, em que Cristo é descrito como o único Salvador.

“E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12).

Você deve lembrar do episódio narrado no capítulo 3. O cap 3 narra que havia um homem coxo de nascença que todos os dias ficava na porta do templo de Jerusalém pedindo esmolas. Esse homem viu Pedro e João adentrar no templo e lhes pediu esmolas. Mas Pedro falou aquele homem que não tinha nada de material para dar aquele homem, mas deu a cura àquele homem em nome de Jesus.

O texto diz que de “um salto o homem ficou de pé” e ficava saltando e louvando a Deus. Esse fato chamou a atenção de muita gente. Muitos conheciam aquele homem que pedia esmolas na porta do templo. Várias gentes chegaram-se a Pedro e João.

Pedro, então, ao ver que as pessoas estavam admiradas pelo milagre da cura do coxo, explicou para os judeus o que havia acontecido (3:12ss). Pedro lhes diz que aquela obra fora de Deus, por meio de Jesus, o qual fora morto por eles. Pedro também prega o evangelho para aquelas pessoas, pois o papel dos apóstolos era testemunhar de Cristo e eles faziam por meio de sinais e prodígios miraculosos para testificar a sua mensagem.

Enquanto Pedro ainda pregava para as pessoas, chegaram algumas autoridades do povo: os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus. Pois estavam ressentidos de ensinarem sobre a ressurreição dos mortos em Jesus (4:1-2). Eles queriam impedir aquela pregação!

Pedro e João foram presos e encarcerados. Mas muitos aceitaram e receberam a palavra do evangelho (4:3-4). No outro dia, depois destes acontecimentos, várias autoridades se reuniram para interrogar Pedro e João. Eles questionaram em nome de quem eles fizeram aquela cura. Pedro mais uma vez aproveita a oportunidade para falar de Jesus e mostrar que foi em nome Dele que aquele coxo foi curado (4:5-12). E este Jesus, a quem eles rejeitaram (v.11), é o único em que há salvação (v.12). Não existe nenhum outro nome no mundo capaz de dar salvação a não ser Cristo.

Isso é importante porque a Igreja Romana tem asseverado que a salvação está naquela igreja. O papa Gregório VII, ao falar sobre o nome "Papa", disse: "Este nome é único no mundo". Veja a que ponto chegaram! Só Cristo tem nome único no mundo. Só Ele é capaz de salvar. Outro papa, Bonifácio VIII, disse: “Declaramos, estabelecemos, definimos e pronunciamos que, para a salvação, é necessário que toda criatura humana esteja sujeita ao Pontífice Romano”. Para ser salvo, apenas precisamos de Cristo. Se estivermos em Cristo, estamos no verdadeiro (1Jo 5.20). Cristo e, somente Cristo é suficiente para a salvação (cf. Gl 3.1,2 [receber o Espírito=salvação]).

Outro ponto em que Cristo é único está na autoridade. Cristo é o único que detém toda a autoridade (Mt 28.18).

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”  (Mateus 28:18).

Por ter autoridade ele manda (vv.19ss [“Ide...fazei discípulos”]). Por ser autoridade Ele é o dono da Igreja (Mt 16.18 [“estabelecerei a minha igreja”]). Por ser autoridade Ele é o cabeça da igreja (Ef 4.15). Por ser autoridade, só a Ele nos submetemos em tudo.

O Concílio Vaticano II, na Lumen gentium, afirma que o Papa, "em virtude do seu cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, tem nela pleno, supremo e universal poder que pode sempre exercer livremente" (n. 22). Isso é um absurdo!

Irmãos, Cristo é nosso Senhor. Ele detém toda a autoridade. Se Ele é nosso Senhor devemos obedecê-lo. “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?” Infelizmente, muitos crentes têm sido negligentes com a Palavra de Cristo, deixando de obedecê-la. Crentes mentirosos, fofoqueiros, adúlteros, briguentos, glutões, sedentos por riquezas, desobedientes aos pais, irresponsáveis com dinheiro, preguiçosos, irascíveis ao extremo, bocas sujas... Tudo isso reflete crentes que são insubmissos à autoridade de Cristo.


Cristo é único. Só Ele é Mediador, só Ele é Salvador, só Ele é detém toda Autoridade. Apeguemo-nos apenas a Ele e, somente a Ele.