segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Sola Fide: A justificação pela fé


Até o presente momento, vimos dois pilares da Reforma Protestante: Sola Scriptura e Solus Christus. Na primeira, vimos que as Escrituras são suficientes porque nos conduzem a salvação em Cristo, porque é um livro sobrenatural (inspirado por Deus) e porque ela nos capacita para toda a boa obra. Na semana passada, falamos que Cristo é suficiente, pois, é o único Mediador, única Autoridade para nós e, ainda, o único Salvador.

Hoje queremos falar sobre o terceiro pilar da Reforma, o Sola Fide, somente a fé. Sola fide é também conhecida como a doutrina da justificação pela fé e somente pela fé. Tal ensino distingue igrejas protestantes da Igreja Católica Romana, Igreja Ortodoxa e outras.

Após o acontecimento de 31 de outubro de 1517 (publicação das 95 teses), algumas confissões de fé luteranas e reformadas foram elaboradas, com o intuito de organizar o pensamento da Reforma Protestante. Daí surgiu as Cinco Solas.

A Igreja Católica respondeu à Reforma com a contra-reforma. No Concílio de Trento, em 13 de janeiro de 1547, o catolicismo respondeu sobre a doutrina da justificação pela fé. As principais afirmações foram: (1) que os pecadores são justificados pelo seu batismo, (2) que a justificação é pela fé em Cristo e pelas boas obras de uma pessoa, (3) que os pecadores não são justificados unicamente pela justiça imputada de Jesus Cristo, e (4) que uma pessoa pode perder sua posição de justificação. Todos esses pontos se fundem na seguinte declaração:

“Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, ou seja, que não é necessária nenhuma outra forma de cooperação para que ele obtenha a graça da justificação e que, em nenhum sentido, é necessário que ele faça a preparação e seja eliminado por um movimento de sua própria vontade: seja anátema” (Canon IX).

A Igreja Católica Romana claramente condenou a sola fide - não confessou que os pecadores são justificados somente pela fé. Enquanto nós, cremos na justificação pela fé.

Diante disso, vamos compreender o significado de justificação, sua necessidade, como podemos ser justificados e o aspecto prático da justificação.

O que significa justificação?

O que o AT fala sobre justificação? A palavra justificar, no hebraico (tsadác), significa absolver, fazer justiça, justificar, purificar; pronunciar que alguém é inocente; tratar alguém como se não fosse culpado. Vejamos um exemplo disso em Dt 25.1:

“Em havendo contenda entre alguns, e vierem a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado”.

Lembre-se que o livro de Deuteronômio significa “segunda lei”. É um livro da Lei que registra a repetição da lei de Deus ao povo de Israel. A lei do Senhor é um conjunto de mandamentos e preceitos. O mandamento aqui em Dt 25.1 é que ao haver contendas, brigas no meio do povo, que seja resolvido judicialmente, isto é, entre os juízes do povo. Aquele que for justo, isto é, inocente, deve ser justificado (declarado justo) e o culpado deve ser considerado culpado (o contrário de justificação).  Aqui você já percebe que a palavra justificação tem um significado forense, isto é, judiciário.

Outro exemplo em que a palavra justificação aparece no AT é no Salmo 143.2:

“Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente”.

Esse exemplo agora expressa a nossa relação com Deus e não com a justiça humana. A NVI traduziu este versículo da seguinte forma: "Mas não leves o teu servo a julgamento, pois ninguém é justo diante de ti". A palavra justo aqui empregada por Davi poderia ser traduzida por inocente. Ninguém é inocente diante de Deus. Se Deus for nos julgar Ele irá nos condenar e não justificar, pois somos "injustificáveis". Ninguém é justo diante de Deus.

Em Pv 17.15 nos é dito que justificar (inocentar) o perverso é condenável ao SENHOR. Deus é Justo e quer/deseja que se faça justiça entre os homens. Muitas pessoas não acreditam mais na justiça de nosso país. Temos políticos corruptos e condenados por corrupção que, pelo visto, podem ser eleitos nas eleições do ano que vem. Se essas pessoas forem consideradas inocentes, mesmo diante de tantas provas, eles não passam pela justa balança de Deus. Nem os condenados nem os juízes que os inocenta. Deus os condena. Inocentar (justificar) o perverso é condenável ao SENHOR.

Outro exemplo da palavra justificação agora remete ao futuro do povo de Deus. Uma promessa de Deus que um Homem que iria justificar a muitos. Vejamos Isaías 53.11:

“Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si”

Temos uma promessa acerca da justificação por meio do Servo Sofredor de Deus. Aquele que levaria sobre Ele mesmo as iniquidades, os pecados de muitos sobre si. Obviamente, o texto se refere ao Senhor Jesus, o Messias. Como ele justificaria (declararia justas) as pessoas? Levando sobre si os nossos pecados.

Percebemos, por meio das passagens do AT, que a justificação é uma declaração jurídica de que alguém é justo ou inocente. Percebemos também que só pode ser justificado (declarado justo) aquele que realmente for justo. Mas, no entanto, algo diferente estava para acontecer. Seríamos declarados justos mesmo sendo pecadores. Por que? Jesus, o Justo, receberia a pena da condenação em nosso lugar, conforme lemos em Isaías. Assim, justificação é ser declarado justo por Deus (o Juiz), tendo crido que Jesus pagou a pena que era nossa, levando sobre si as nossas iniquidades. Só podemos ser considerados justos diante de Deus por causa do Servo Justo, Jesus.

A necessidade da justificação ficou clara no Salmo 143.2, quando diz que ninguém é justo diante de Deus. Assim, carecemos que Deus nos considere justos ou seremos condenados por Ele.

No NT, a palavra justificação também diz-se de alguém que foi pronunciado como justo ou declarado (judicialmente) justo por Deus. Assim, temos um exemplo que descreve a necessidade de justificação. Vejamos Lucas 7.29:

“Todo o povo que o ouviu e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João”

O texto diz que os pecadores (e até mesmo os publicanos) reconheceram a justiça de Deus, isto é, foram justificados por Ele. Como isso fica evidente? Por terem sido batizados com o batismo de João. Lembrem-se que o batismo de João Batista não era nos mesmos moldes do batismo da igreja. Trata-se de batismo de arrependimento, como sinal de arrependimento pelos pecados. Simbolizava uma purificação do coração. Os que se arrependeram foram batizados por João e, assim, foram justificados por Deus ("reconheceram a justiça de Deus"). Assim, o arrependimento (mudar o rumo) produz a justificação do crente.

Como podemos ser justificados?

Somos justificados por meio da fé em Cristo, somente
“sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.”  (Gálatas 2:16)

Devo leiamos novamente o que diz o catolicismo sobre o assunto:

“Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, ou seja, que não é necessária nenhuma outra forma de cooperação para que ele obtenha a graça da justificação e que, em nenhum sentido, é necessário que ele faça a preparação e seja eliminado por um movimento de sua própria vontade: seja anátema” (Canon IX).

Tudo que precisamos é de fé em Cristo. Vejamos outro exemplo em Gl 3.11:

“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.” (Gálatas 3:11)

Paulo cita Habacuque 2.4, mostrando que a fé é suficiente para viver, isto é, ser salvo. Lembremos que foi isso que chamou a atenção de Lutero (cf. Rm 1.17). Diante da prática romana de estabelecer penitencias, rezas, negociar indulgências e perdão dos pecados, o monge viu que precisava apenas crer.

Ás vezes a fé não nos parece algo muito prático. Parece algo abstrato. O que precisamos para sermos justificados diante de Deus, sermos declarados justos por Ele? Apenas fé, crença! Isso não nos parece, as vezes, muito confiável. “Eu só preciso crer?”, questiona alguém. “Tem que ter algo a mais para ser feito”.

Era justamente isso que Paulo estava combatendo ao escrever a epístola aos gálatas. Havia-se infiltrado nas igrejas da Galácia a ideia de que Cristo salva, mas, não era suficiente. Precisava-se de algo mais: obediência a lei, guardar o sábado, circuncisão, cerimônias judaicas, etc. Paulo diz: “A fé é suficiente pois o homem é justificado pela fé, somente” e quem busca ser justificado por meio da lei se separa de Cristo e da Sua graça (cf. Gl 5.4).

Charles Finney (pai do movimento pentecostal) criticou a ideia de que uma vez justificado sempre justificado. Ele acreditava que o crente tinha que manter-se em santificação para continuar justificado. Ora, o que é isso se não for crença em salvação por obras? Para eu continuar salvo tenho que fazer por onde? Isso foge da graça.

Vejamos outro exemplo em Rm 4.2-5:

2 Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus.  3  Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.  4  Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida.  5  Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Romanos 4:2-5 )

Se a justificação fosse meramente por obras, teríamos motivos de se gloriar diante das pessoas (Abraão foi justificado pela fé). Pois quem trabalha é merecedor de receber o salário. O salário é uma dívida. Deus não tem dívida conosco. Mas, os que não trabalham para receber a justificação mas, apenas, crer, são justificados. A justificação é pela graça (cf. Tt 3.7).

A justificação tem um aspecto prático

Tiago nos mostra o outro lado da moeda. A fé tem um aspecto prático. A fé não é algo meramente abstrato, ela se manifesta nas obras. Vejamos:

“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” (Tg 2.21)

O que Tiago diz aqui não contradiz o ensino de Paulo sobre a justificação pela fé em Abraão. Ele fala do outro lado da moeda. Como sabemos que Abraão foi justificado? Que evidência temos de que ele creu em Deus? Ele ofereceu seu filho em fé. Abraão não apenas disse "eu creio no SENHOR", mas, como demonstração da sua fé, Abraão ofereceu Isaque ao SENHOR.

Um exemplo disso é quando alguém diz que crê em Jesus mas rouba, fofoca, fala palavrão, se veste de modo indecente, anda com más companhias, é um péssimo aluno na escola, não respeita as autoridades, não vive como um cristão... Você olha para essa pessoa e diz que ela é crente só porque ela diz? Não! As obras demonstram se essa pessoa foi justificada por Deus.

Assim, a justificação tem o seu aspecto prático. Temos que viver como pessoas justas diante dos homens.

Como você tem demonstrado que foi justificado pelo Senhor? As pessoas olha para você e glorificam a Deus? Nós cantamos: “Que os outros vendo-me glorifiquem a Ti, Santo Deus”, mas você está imerso em pecado e age como se não fosse um cristão justificado diante dos outros. Aqui na igreja você é de um jeito e lá fora é de outro. Viva conforme a justiça que Cristo atribuiu a você, se você é um cristão.

Gratidão por Cristo morrer por nós, o justo pelos injustos, para imputar Sua justiça aos que creem em seu nome.


Você que não é cristão. A Bíblia diz que você já está condenado, caso não creia em Cristo. Entregue-se ao Senhor hoje mesmo e Ele te justificará.

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