segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Sola Scriptura: A Bíblia é Suficiente

14 Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste 15  e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. 16  Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, 17  a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2 Timóteo 3.14-17)



Uma doutrina que nós batistas sustentamos é a doutrina da Suficiência das Escrituras. Com isto afirmamos, com base na própria Escritura, que a Bíblia é suficiente para nos conduzir a um relacionamento com Deus em fé, bem como, o nosso relacionamento com o próximo. Em 2 Pedro 1:3, temos: “Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”. O que precisamos saber para conhecer a Deus, sua vontade, a Cristo, sua obra, como viver nesse mundo, encontramos nas Escrituras.

Essa é uma doutrina que nos diferencia em muito do catolicismo romano. Num blog católico se faz uma crítica aos protestantes por defenderem a doutrina sola scriptura. Veja o que é dito:

“Ao contrário dos protestantes, é fundamental para os católicos situar a Sagrada Escritura na realidade eclesial, em sua correlação com a Tradição e o Magistério perene da Igreja: para nós, não é possível falar de Bíblia sem a Igreja. Daí a origem do que professamos no Credo: “Creio (…) na Santa Igreja Católica“. A Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério são “extensões” da Palavra viva de Deus, que é Jesus Cristo (Jo 1,1).”[1]

Para a Igreja Católica, a Bíblia não é a única autoridade, mas o é juntamente com sua Tradição e o Magistério. Foi isso que originou o que ficou conhecido como sola scriptura, uma das cinco doutrinas (solas) que resumem a Reforma Protestante, que aconteceu há 500 anos, na Alemanha.

A Reforma Protestante (de onde veio a expressão protestantes para designar os não-católicos) foi um movimento reformista cristão contrário a diversos pontos da doutrina Católica Romana. A ideia inicial era a de reformar o catolicismo, não sair dele. No entanto, sair dele foi inevitável.

Em 31 de outubro de 1517, segundo alguns historiadores, Martinho Lutero, monge católico, afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as famosas 95 testes. A Igreja Católica ameaçou Martinho Lutero com a excomunhão (e morte) se ele não se retratasse formalmente. A resposta de Martinho Lutero foi: 

“Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das passagens que citei; a menos que assim submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; que Deus me ajude. Amém."

Como resultado da Reforma, houve uma divisão da chamada Igreja do Ocidente entre católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o protestantismo.

A consciência de Lutero era cativa à Palavra de Deus. Sua autoridade era a Bíblia e não as falsas doutrinas que eram (e ainda são) ensinadas pelo romanismo. O Sola Scriptura tornou-se, então, um dos pilares da Reforma. As igrejas protestantes têm como autoridade, regra de fé e prática, as Escrituras Somente. A Bíblia é suficiente!

Mas o que a Bíblia tem a dizer sobre a sua suficiência? Em que sentido ela é suficiente? Vejamos três verdades sobre a suficiência da Escritura.

A primeira verdade é que somente a Bíblia nos apresenta a salvação em Cristo (14-15). Somente as Escrituras podem nos fazer sábios para a salvação pela fé em Cristo. Isso fica muito claro no verso 15, mas examinemos o que diz o verso 14.

Paulo manda que Timóteo permaneça naquilo que aprendeu e foi inteirado. Mas ele inicia o verso com um sonoro TU, PORÉM. Expressão essa utilizada várias vezes pelo apóstolo nas epístolas pastorais. Sabe-se que o pastor Timóteo estava enfrentando problemas no ministério em Éfeso. Ao que parece, havia problemas relacionados à perseguição e falsos crentes na igreja. Tudo isso deixava Timóteo desanimado. No início do capítulo 3 Paulo adverte a Timóteo que nos últimos dias (que eles já viviam) os tempos seriam difíceis por causa da corrupção humana. No verso 10 ele diz: “TU PORÉM, tens perseverado.” No verso 13 Paulo volta a falar dos homens perversos: “Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados”. “Olha Timóteo, os homens irão piorar em suas maldades, mas, TU PORÉM (v. 14), permaneça naquilo que aprendeste e foste inteirado. Timóteo deveria se apegar a Palavra mesmo em tempos difíceis de apostasia da fé, de revolta contra Deus.

Notemos a expressão foste inteirado(sentir confiança, ser convencido). Uma expressão no português que reflete bem o que Paulo está dizendo é fidelizar, i.e., “tornar (um cliente) fiel a um produto, marca, serviço etc”. A ideia básica é que Timóteo foi “fidelizado” por Paulo, tornando-se fiel ao que ele (o apóstolo) propôs. Timóteo foi feito fiel por Paulo, ao ensiná-lo a Palavra.

Outro ponto a ser notado é que somente Paulo (e os demais escritores da Bíblia) poderia dizer: "permaneça naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste" (2Tm 3.14). Ora, o particípio causal utilizado aqui (sabendo = porque, visto que) visa estabelecer a razão, o motivo para se fazer o verbo da ação (permanecer). Assim, Timóteo deveria permanecer no ensino paulino por causa da autoridade do apóstolo (de quem o aprendeste/foste inteirado). Ao meu ver há aqui (ao menos) um claro indício de que Paulo tinha em mente, ao falar de Escritura em 2Tm 3.14-17, não somente o AT, mas também o ensino apostólico, i.e., o NT. Timóteo deveria permanecer na Palavra apostólica. Por que? Porque ela nos apresenta a salvação em Cristo (v.15).

Que desde a infância. O dever dos pais judeus era ensinar a lei aos filhos a partir dos cinco anos de idade. Timóteo fora instruído na fé por sua mãe (Eunice), que por sua vez foi instruída pela avó de Timóteo (Loide). Timóteo sabia desde a sua infância as sagradas letras, isto é, as Escrituras. Paulo o orienta a permanecer nela, pois é o livro que nos conduz a Cristo.

Na época da Reforma de Lutero, havia a venda de indulgências por parte da Igreja Romana. A igreja se aproveitava dos fiéis, vendendo supostas "relíquias" (madeira da cruz de Cristo, por exemplo), ou cobrando pagamentos e doações para a Igreja, com o fim de terem, por exemplo, seus pecados perdoados. Lutero foi contra isso. A Bíblia também.

Mas, ainda hoje há uma venda de salvação, de libertação e de curas em igrejas ditas evangélicas. Paulo nos mostra que a Escritura é suficiente para nos apresentar a salvação em Cristo. A fé vem pelo ouvir a Palavra (Rm 10.17). Nosso evangelismo deve ser a apresentação da Palavra para os homens e não apenas contar histórias.

A palavra é suficiente para nos tornar sábios para a salvação pela fé em Cristo. Foi o que aconteceu com Lutero. Mesmo tanto tempo na Igreja, como um monge católico, ao ler Romanos 1.17, “o justo viverá pela fé”, se entregou ao Senhor Jesus de verdade, pois a fé vem por meio da Palavra.

A segunda verdade que precisamos saber sobre a suficiência das Escrituras é que somente a Bíblia é inspirada por Deus (16a). A Bíblia é o livro de Deus, não de homens.

Agora, precisamos entender que Escritura é essa a que Paulo se refere. Comumente se ouve que Paulo está se referindo ao AT, uma vez que o NT ainda estava sendo desenvolvido. Como apontei no verso 14, ele já tinha em mente até o que ele transmitiu a Timóteo (“sabendo de quem o aprendeste”). Ele não se referia apenas ao AT, mas também ao NT (cf. 1Tm 5.18; Dt 25.4; Mt 10.10; Lc 10.7, onde Paulo chama citações do AT e do NT de Escritura, isto é, Palavra de Deus).

Assim, toda a Bíblia é inspirada por Deus. Há uma tradução errada desse texto que diz: “toda escritura inspirada é proveitosa” (ARC, ASV e NEB). Isso gera um problema, pois, deixa a impressão de que nem toda a Bíblia é inspirada, mas que há uma parte inspirada e outra não. Cremos que a Bíblia toda é inspirada por Deus.

Com inspiração queremos dizer que esse “foi o ato milagroso de Deus através do qual Ele moveu os escritores da Bíblia para que escrevessem aquilo que Deus queria que fosse escrito, sem cometer erro naquilo que escrevessem”. Não é um livro de homens ou de particular elucidação, mas é o livro de Deus, inspirado por Deus.

Ora, se Deus detém toda a autoridade do universo, o que ele fala também tem autoridade. Assim, a Sua palavra é autoridade para nossas vidas porque reflete o caráter de Deus.

A terceira verdade sobre a suficiência das Escrituras é que somente as Escrituras nos habilita para toda a boa obra (16b-17).

No verso 16 temos dois pontos subordinados a “Toda a Escritura”. Toda Escritura é o que? Primeiro, ela é inspirada por Deus. Segundo ela é útil. Útil para que? As respostas refletem todas as áreas de nossa vida (ensino, repreensão, correção, educação na justiça). O verso 17 resume tudo, afirmando que a utilidade das Escrituras têm a finalidade de nos tornar habilitados, capacitados, aperfeiçoados, para toda a boa obra.

O que isso significa? Significa, por exemplo, que a Escritura é suficiente para o aconselhamento cristão. Não nego a importância de psicólogos ou psiquiatras, como não nego a importância de tomar remédios. Mas só a Bíblia (só Deus) conhece e sabe tratar da alma, de como devemos proceder em meio ao sofrimento, de como lidar com a perda, de como lidar com meus sentimentos, etc.

Só ela nos habilita para toda a boa obra, também, significa que ela é suficiente para o nosso andar diário. Ela nos mostra como servir a Deus. Ela nos mostra como proceder neste mundo caído. Ela é o nosso código de conduta, cujo legislador não é brasileiro, ou seja, é um livro todo justo. Ela nos aperfeiçoa para vivemos de modo a agradar a Deus.

Veja, a regra é a Bíblia! Temos que ter o cuidado para não fazer como outras religiões fizeram, colocando tradições humanas, regras humanas, e afirma-las como se fossem de Deus. Só a Palavra têm autoridade e é suficiente para nos guiar e nos habilitar para toda a boa obra.

Só a Bíblia têm todas as respostas que precisamos saber. Mas, sabe porque não sabemos muitas delas? Porque não fazemos o que Paulo manda no verso 14: “permanece”. Como podemos permanecer na Palavra? Subindo em cima dela? Não! Lendo, ouvindo, meditando na Palavra. Se a Bíblia é suficiente, devemos segui-la. Nossas opiniões são boas, as vezes, mas só a Lei do Senhor é perfeita.

A Bíblia é suficiente porque somente ela nos apresenta a salvação em Cristo, somente ela é inspirada por Deus e somente ela nos habilita para toda a boa obra. Que você seja apegado a este livro como o salmista, que disse: “Quanto amo a tua lei, é a minha meditação todo o dia”. Amém!





[1] https://catolicismopuroesimples.wordpress.com/2015/07/07/a-legitimidade-da-sola-scriptura/

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