14 Tu,
porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem
o aprendeste 15 e que, desde a infância, sabes as sagradas
letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. 16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil
para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, 17 a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2 Timóteo 3.14-17)
Uma doutrina que nós batistas
sustentamos é a doutrina da Suficiência das Escrituras. Com isto afirmamos, com
base na própria Escritura, que a Bíblia é suficiente para nos conduzir a um
relacionamento com Deus em fé, bem como, o nosso relacionamento com o próximo.
Em 2 Pedro 1:3, temos: “Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas
todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo
daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”. O que precisamos
saber para conhecer a Deus, sua vontade, a Cristo, sua obra, como viver nesse
mundo, encontramos nas Escrituras.
Essa é uma doutrina que nos
diferencia em muito do catolicismo romano. Num blog católico se faz uma crítica
aos protestantes por defenderem a doutrina sola
scriptura. Veja o que é dito:
“Ao contrário
dos protestantes, é fundamental para os católicos situar a Sagrada Escritura na
realidade eclesial, em sua correlação com a Tradição e o Magistério perene da
Igreja: para nós, não é possível falar de Bíblia sem a Igreja. Daí a origem do
que professamos no Credo: “Creio (…) na Santa Igreja Católica“. A Sagrada
Escritura, a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério são “extensões” da Palavra
viva de Deus, que é Jesus Cristo (Jo 1,1).”[1]
Para a Igreja Católica, a Bíblia não
é a única autoridade, mas o é juntamente com sua Tradição e o Magistério. Foi
isso que originou o que ficou conhecido como sola scriptura, uma das cinco doutrinas (solas) que resumem a
Reforma Protestante, que aconteceu há 500 anos, na Alemanha.
A Reforma Protestante (de onde
veio a expressão protestantes para designar os não-católicos) foi um movimento
reformista cristão contrário a diversos pontos da doutrina Católica Romana. A
ideia inicial era a de reformar o catolicismo, não sair dele. No entanto, sair
dele foi inevitável.
Em 31 de outubro de 1517, segundo
alguns historiadores, Martinho Lutero, monge católico, afixou na porta da
Igreja do Castelo de Wittenberg as famosas 95 testes. A Igreja Católica ameaçou
Martinho Lutero com a excomunhão (e morte) se ele não se retratasse
formalmente. A resposta de Martinho Lutero foi:
“Portanto, a menos que eu seja
convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo mais claro raciocínio; a
menos que eu seja persuadido por meio das passagens que citei; a menos que assim
submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me
retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui
permaneço, não posso fazer outra coisa; que Deus me ajude. Amém."
Como resultado da Reforma, houve
uma divisão da chamada Igreja do Ocidente entre católicos romanos e os
reformados ou protestantes, originando o protestantismo.
A consciência de Lutero era
cativa à Palavra de Deus. Sua autoridade era a Bíblia e não as falsas doutrinas
que eram (e ainda são) ensinadas pelo romanismo. O Sola Scriptura tornou-se, então, um dos pilares da Reforma. As
igrejas protestantes têm como autoridade, regra de fé e prática, as Escrituras
Somente. A Bíblia é suficiente!
Mas o que a Bíblia tem a dizer
sobre a sua suficiência? Em que sentido ela é suficiente? Vejamos três verdades
sobre a suficiência da Escritura.
A primeira verdade é que somente a Bíblia nos apresenta a salvação em
Cristo (14-15). Somente as Escrituras podem nos fazer sábios para a
salvação pela fé em Cristo. Isso fica muito claro no verso 15, mas examinemos o
que diz o verso 14.
Paulo manda que Timóteo permaneça
naquilo que aprendeu e foi inteirado. Mas ele inicia o verso com um
sonoro TU, PORÉM. Expressão essa utilizada várias vezes pelo apóstolo nas epístolas
pastorais. Sabe-se que o pastor Timóteo estava enfrentando problemas no
ministério em Éfeso. Ao que parece, havia problemas relacionados à perseguição
e falsos crentes na igreja. Tudo isso deixava Timóteo desanimado. No início do
capítulo 3 Paulo adverte a Timóteo que nos últimos dias (que eles já viviam) os
tempos seriam difíceis por causa da corrupção humana. No verso 10 ele diz: “TU
PORÉM, tens perseverado.” No verso 13 Paulo volta a falar dos homens perversos:
“Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo
enganados”. “Olha Timóteo, os homens irão piorar em suas maldades, mas, TU
PORÉM (v. 14), permaneça naquilo que aprendeste
e foste inteirado. Timóteo deveria se apegar a Palavra mesmo em tempos
difíceis de apostasia da fé, de revolta contra Deus.
Notemos a expressão foste inteirado(sentir confiança, ser
convencido). Uma expressão no português que reflete bem o que Paulo está
dizendo é fidelizar, i.e., “tornar (um cliente) fiel a um produto, marca,
serviço etc”. A ideia básica é que Timóteo foi “fidelizado” por Paulo,
tornando-se fiel ao que ele (o apóstolo) propôs. Timóteo foi feito fiel por
Paulo, ao ensiná-lo a Palavra.
Outro ponto a ser notado é que somente
Paulo (e os demais escritores da Bíblia) poderia dizer: "permaneça naquilo
que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste"
(2Tm 3.14). Ora, o particípio causal utilizado aqui (sabendo = porque, visto
que) visa estabelecer a razão, o motivo para se fazer o verbo da ação
(permanecer). Assim, Timóteo deveria permanecer no ensino paulino por causa da
autoridade do apóstolo (de quem o aprendeste/foste inteirado). Ao meu ver há
aqui (ao menos) um claro indício de que Paulo tinha em mente, ao falar de
Escritura em 2Tm 3.14-17, não somente o AT, mas também o ensino apostólico,
i.e., o NT. Timóteo deveria permanecer na Palavra apostólica. Por que? Porque ela
nos apresenta a salvação em Cristo (v.15).
Que desde a infância. O dever dos pais judeus era ensinar a lei aos
filhos a partir dos cinco anos de idade. Timóteo fora instruído na fé por sua
mãe (Eunice), que por sua vez foi instruída pela avó de Timóteo (Loide).
Timóteo sabia desde a sua infância as sagradas
letras, isto é, as Escrituras. Paulo o orienta a permanecer nela, pois é o
livro que nos conduz a Cristo.
Na época da Reforma de Lutero,
havia a venda de indulgências por parte da Igreja Romana. A igreja se
aproveitava dos fiéis, vendendo supostas "relíquias" (madeira da cruz
de Cristo, por exemplo), ou cobrando pagamentos e doações para a Igreja, com o
fim de terem, por exemplo, seus pecados perdoados. Lutero foi contra isso. A
Bíblia também.
Mas, ainda hoje há uma venda de
salvação, de libertação e de curas em igrejas ditas evangélicas. Paulo nos
mostra que a Escritura é suficiente para nos apresentar a salvação em Cristo. A
fé vem pelo ouvir a Palavra (Rm 10.17). Nosso evangelismo deve ser a
apresentação da Palavra para os homens e não apenas contar histórias.
A palavra é suficiente para nos
tornar sábios para a salvação pela fé em Cristo. Foi o que aconteceu com
Lutero. Mesmo tanto tempo na Igreja, como um monge católico, ao ler Romanos
1.17, “o justo viverá pela fé”, se entregou ao Senhor Jesus de verdade, pois a
fé vem por meio da Palavra.
A segunda verdade que precisamos
saber sobre a suficiência das Escrituras é que somente a Bíblia é inspirada por Deus (16a). A Bíblia é o livro de
Deus, não de homens.
Agora, precisamos entender que
Escritura é essa a que Paulo se refere. Comumente se ouve que Paulo está se referindo
ao AT, uma vez que o NT ainda estava sendo desenvolvido. Como apontei no verso
14, ele já tinha em mente até o que ele transmitiu a Timóteo (“sabendo de quem
o aprendeste”). Ele não se referia apenas ao AT, mas também ao NT (cf. 1Tm
5.18; Dt 25.4; Mt 10.10; Lc 10.7, onde Paulo chama citações do AT e do NT de
Escritura, isto é, Palavra de Deus).
Assim, toda a Bíblia é inspirada
por Deus. Há uma tradução errada desse texto que diz: “toda escritura inspirada
é proveitosa” (ARC, ASV e NEB). Isso gera um problema, pois, deixa a impressão
de que nem toda a Bíblia é inspirada, mas que há uma parte inspirada e outra
não. Cremos que a Bíblia toda é inspirada por Deus.
Com inspiração queremos dizer que
esse “foi o ato milagroso de Deus através do qual Ele moveu os escritores da
Bíblia para que escrevessem aquilo que Deus queria que fosse escrito, sem
cometer erro naquilo que escrevessem”. Não é um livro de homens ou de
particular elucidação, mas é o livro de Deus, inspirado por Deus.
Ora, se Deus detém toda a
autoridade do universo, o que ele fala também tem autoridade. Assim, a Sua
palavra é autoridade para nossas vidas porque reflete o caráter de Deus.
A terceira verdade sobre a
suficiência das Escrituras é que somente
as Escrituras nos habilita para toda a boa obra (16b-17).
No verso 16 temos dois pontos
subordinados a “Toda a Escritura”. Toda Escritura é o que? Primeiro, ela é
inspirada por Deus. Segundo ela é útil. Útil para que? As respostas refletem
todas as áreas de nossa vida (ensino, repreensão, correção, educação na
justiça). O verso 17 resume tudo, afirmando que a utilidade das Escrituras têm
a finalidade de nos tornar habilitados, capacitados, aperfeiçoados, para toda a
boa obra.
O que isso significa? Significa,
por exemplo, que a Escritura é suficiente para o aconselhamento cristão. Não
nego a importância de psicólogos ou psiquiatras, como não nego a importância de
tomar remédios. Mas só a Bíblia (só Deus) conhece e sabe tratar da alma, de
como devemos proceder em meio ao sofrimento, de como lidar com a perda, de como
lidar com meus sentimentos, etc.
Só ela nos habilita para toda a
boa obra, também, significa que ela é suficiente para o nosso andar diário. Ela
nos mostra como servir a Deus. Ela nos mostra como proceder neste mundo caído.
Ela é o nosso código de conduta, cujo legislador não é brasileiro, ou seja, é
um livro todo justo. Ela nos aperfeiçoa para vivemos de modo a agradar a Deus.
Veja, a regra é a Bíblia! Temos
que ter o cuidado para não fazer como outras religiões fizeram, colocando tradições
humanas, regras humanas, e afirma-las como se fossem de Deus. Só a Palavra têm
autoridade e é suficiente para nos guiar e nos habilitar para toda a boa obra.
Só a Bíblia têm todas as
respostas que precisamos saber. Mas, sabe porque não sabemos muitas delas?
Porque não fazemos o que Paulo manda no verso 14: “permanece”. Como podemos
permanecer na Palavra? Subindo em cima dela? Não! Lendo, ouvindo, meditando na
Palavra. Se a Bíblia é suficiente, devemos segui-la. Nossas opiniões são boas,
as vezes, mas só a Lei do Senhor é perfeita.
A Bíblia é suficiente porque
somente ela nos apresenta a salvação em Cristo, somente ela é inspirada por
Deus e somente ela nos habilita para toda a boa obra. Que você seja apegado a
este livro como o salmista, que disse: “Quanto amo a tua lei, é a minha
meditação todo o dia”. Amém!

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